Sim, nós podemos!

Sim, nós podemos. E por que nós podemos? Podemos porque o mundo é um emaranhado de olhos que juntos não têm cor.

Cor, brilho, voz, palavra. Hoje ouvi uma senhora de 92 anos, D. Adozinda, esbanjando vitalidade, dizer que a palavra sempre foi sua maior arma. Foi com ela que sempre lutou e – mesmo nas derrotas – venceu.

Há 75 anos dando aulas de português, já passaram pelas mãos dela pessoas de todos os credos – de todas as cores. Contou rindo que já foi alfabetizada quatro vezes por quatro reformas ortográficas. Pelo entusiasmo demonstrado, certamente ainda passaria por mais quatro.

Seu brilho arrebatador no olhar acusa: ela nunca deixou de sonhar. Sim, ela tem um sonho. Faço idéia do sorriso que Luther King abriria ao saber qual. Ela sonha com um mundo em que as pessoas não nasçam para viver – mas para conviver.

Também hoje, eu soube que uma jornalista da revista inglesa “The Time” pediu a palavra em coletiva de imprensa para “desculpar-se” com Lula por ter olhos azuis. Não creio que colocar um presidente numa saia justa, fazendo esse tipo de ironia tendenciosa, seja papel de um repórter.

Tomando por base o ensinamento de D. Adozinda, o que dizer de Lula quanto à convivência? Olhos castanhos, azuis, verdes ou negros, para ele todos foram sempre dignos do mesmo respeito.

Foi assim que, depois de tantas lutas, ele se fez respeitar. Foi assim que chegou a 2009 vendo os olhos negros do chefe da Casa Branca apontarem para ele e dizerem: “Esse é o cara!”.

Sim, nós podemos. E quando nós podemos? Podemos quando percebemos que aos olhos do mundo só teremos cor se lutarmos.

03 de Abril de 2009.

Ana Helena Tavares
Enviado por Ana Helena Tavares em 04/04/2009
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