Seja Feliz!

É lua cheia.

Sento-me na calçada e o vizinho, ao sentar do meu lado, já vem falando, gesticulando, olhando aquela paisagem tão estática, tão igual todos os dias, mas que pelo seu comentário, parecia estar vendo uma paisagem diferente da que eu via. Falava do brilho da lua, que eu não via, vi a iluminação elétrica normal de todos os dias. Falava de estrelas. Confesso que olhei pro alto, não vi nenhuma, nem mesmo a estrela d’alva. Falava do brilho dos olhos das pessoas, dos passantes. Eu vi pessoas cansadas voltando do trabalho, querendo um banho e um lugar para ficar, quietas.

Eu não via, definitivamente, o que ele via.

Eu não via nem mesmo de onde meu vizinho, esse duro endividado, tirava essa alegria, esse brilho nos olhos. Diziam que estava para perder o emprego e a mulher, entre outras coisas. E estava alegre, exultante.

Será da lua cheia? Então é maluco...

Como sou homem de poucas palavras e, geralmente diretas, sem frescuras, fui ao ponto:

- Dimas, que porra é que tu tens? Tá na merda, se afundando, e rindo???

Ele, amarelou o sorriso, que perdeu quase todo o brilho, mas, sustentando a chama necessária a um guerreiro, respondeu:

- Que me resta? Não tenho coisas materiais porra... Tenho que ser feliz com o que tenho... e o que tenho é o ar que respiro, a luz da lua, pois essa merda da energia elétrica vão cortar, já chegou o aviso! Que me resta, senão as pessoas, naquilo que elas tiverem de melhor? Pois o que elas têm de pior eu já conheço, já me dão... Eu preciso rever conceitos, ver com outros olhos tudo ao meu redor... pooorra, e eu tava conseguindo, se não fosse você...

Disse isso e desabou num choro convulsivo, a partir daí só repetia porra, porra, porra, e chorava, enxugando os olhos com as costas da mão, negando com a cabeça a minha atitude.

Tiro daí pelo menos duas lições: Primeira, deixe os outros serem felizes; e segunda, é possível sim ser feliz com pouco ou nada, depende de como vemos os mundo, do que valorizamos, daquilo que nós mesmos estabelecemos para nós como felicidade.

Acho que não preciso dizer que estraguei o dia do Dimas e a minha semana.

Jan Câmara