Ressurreição
 

          No curso da chamada “Semana Santa” relembra-se a Paixão de Cristo e, assim, reafirmam-se dogmas da cristandade, notadamente, o da ressurreição.  Não cairei na esparrela de discutir ou enfrentar dogmas religiosos, até porque quem os aceita não está sujeito ao convencimento a partir de argumentos – lógicos ou não; razoáveis ou não. Dogmas são dogmas – e ponto! E ai de quem for de encontro a eles no meio da esmagadora maioria de créus.


          Afinal, estima-se que um terço da humanidade professe – ou alegue professar – a fé cristã.  Aliás, eu mesmo assim o faço, apesar de sérias ressalvas quanto a formas e ritos – sejam eles quais forem. Fui criado e educado no seio de uma cultura cristã e, assim, é natural que dela eu tenha absorvido preceitos básicos de pensamento, julgamento e conduta.  


          Não vem ao caso o que penso sobre a Bíblia ou sobre a autenticidade histórica da existência de Jesus. Importa, sim, que as bases da doutrina cristã fazem parte de minha formação e de minhas crenças – ao menos naquilo em que consegui absorvê-las após o implacável crivo de meu refratário senso crítico.


          Vários são os enfoques e acepções que se atribuem à ressurreição de Jesus Cristo e não sou eu a pessoa mais indicada para discorrer sobre eles – até porque isso mais causaria polêmica que qualquer outra coisa; e não é esse meu interesse neste instante.


          Particularmente para mim a simbologia e o aprendizado que imagino serem relevantes quanto a tal passagem do Novo Testamento é algo singelo na propositura e de relativa complexidade em sua aplicação prática.


          Entendo que a indicação evidente que tal passagem bíblica nos aponta é que para que haja uma vida, digamos assim, espiritual mais consequente, é necessário que sejam sacrificados aspectos verdadeiramente nocivos da vida comezinha e que isso nos provoque a nascer de novo de uma forma mais sublime.   


          O “reino dos céus” – penso eu – está ao alcance de todos nós, desde já, mesmo que de forma parcial e relativa, bastando para isso que deixemos morrer a parte daninha de nossas idiossincrasias terrenas para que possamos ressuscitar em novas condutas que se pautem em valores morais e éticos mais depurados. Sem esse sacrifício do que é verdadeiramente nocivo em nossas características terrenas não é possível dar lugar para esse ressurgimento espiritual.


     Afinal, como diz a sabedoria ancestral, cada um de nós carrega sua própria cruz. Cabe a cada um de nós, também, saber como fazer de seu calvário particular um rito de passagem para uma verdadeira ressurreição que nos aprimore espiritualmente.