O Rei do Calcário

Ele era respeitado pela riqueza e pela inteligência que tinha. Era dono de muitas terras e minas. A quantidade de pedra nas minas alcançaria a terceira geração e olhe lá, se não passasse dela. No seu escritório o dinheiro era colocado em sacos de farinha de 60 quilos. Não tinha noção de quanto entrava nem do quanto saia. Era realmente um rei, pois possuía caminhões, tratores, caçambas, moinhos, além de ter muitos homens a seu serviço.

Trabalho maldito que deixava os homens só com os botecos de olho de fora. Todos que lidavam na fábrica viviam brancos da cabeça aos pés. O máximo que viviam essas pessoas que trabalhavam diretamente com o cal sem sentir qualquer sintoma eram dez anos de serviço, depois disso era um problema atrás do outro. A média de vida era de cinqüenta anos. Muitos com menos tempo de serviço já apresentavam pulmões tomados pelo pó do calcário. Poucos escapavam, pois as fábricas não ofereciam equipamentos para seus funcionários. Nenhum empregado era fichado e nem tinha seus direitos respeitados.

O rei do calcário é um dos poucos que escapou de morrer cedo. Chegara aos oitenta anos, embora com pouca saúde, se sente feliz por está vivo. Cansado, senta em frente de casa e fica a olhar o movimento dos carros que passam.

Outras fábricas foram surgindo, outros entraram para competir e o rei do calcário foi perdendo espaço. Foi se desfazendo de tudo: maquinário e terrenos.

Já não usa cetro, nem trono possui. Do homem que fora no passado ficara apenas uma sombra. Fora um guerreiro que venceu muitas guerras. Criara os filhos, viu a terceira geração chegar. Nunca imaginou que na velhice ficaria desse jeito, mas a vida é cheia de surpresa.

Deu ordem e foi obedecido. Teve aos seus cuidados muitas famílias. Viu sua cidade crescer e desenvolver-se. Sonhou alto....Só não desejou terminar seus dias assim.

Queria morrer a beira de um forno que arde até as pedras se desfazer em pó. Queria tombar ouvindo os estalos da lenha queimando, sentir o cheiro da madeira ao fogo e o calor que alcança distância. Mas à hora está chegando e a lição que aprendeu com a vida, decidiu colocar em prática: No tempo das vacas gordas teve força para agir, hoje no tempo das vacas magras deixou de ser rei, deixou de ter multidões lhe bajulando. Tem que aceitar essa verdade para poder continuar existindo.

Ione Sak
Enviado por Ione Sak em 10/04/2009
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