MANIAS (ou Woody Allen não volta mais a Manhattan)

Ele se considera um sujeito normal. Previsível, meio sem graça até. Levanta da cama todos os dias com o pé direito. Pra dar sorte. Caminha pelas calçadas listradas evitando as partes claras. Entra no escritório sempre pela mesma porta, dá a volta pela mesa sempre de um lado só. À noite, quando o expediente termina, faz o mesmo trajeto. Caminha a pé – não por opção, mas necessidade, pequenos trechos. Às vezes tem a impressão de ver coisas entre as sombras. Desde pequeno. A cidade parece avançar sobre ele, lenta, imprevisível. Algo cai e se quebra. Alguém grita numa rua distante. Sons de passos. Ninguém no seu campo de visão. Ele sabe que a cidade cresceu. Houve um tempo em que os trajetos eram menores. E os medos também.

Chega são e salvo ao prédio onde mora. Vence os 14 andares de escada. Não encara elevador. A única vez em que se atreveu, transpirou sem parar, o coração querendo sair pela boca. Nunca mais.

No apartamento, as portas sempre ficam abertas, semi fechadas ou não fecham de

jeito nenhum. De propósito.

Sempre faz questão de afirmar aos amigos mais próximos:

“Sabe aquela estranha sensação de estar “sarcofagado”? Pois é. Se a palavra existe, ela ilustra bem o que sinto”. Sarcofagado.

Tirando essas manias estranhas, é um sujeito normal. Gente boníssima.

Muita gente tem medo de voar, Kieffer Sutherland tem medo de espelhos e Natalie Portmam, de tartarugas, a cantora country Lyle Lovett chora quando vê vacas e Woody Allen, além do medo de cores fortes, também tem medo de altura, lugares apertados, lugares com muitas pessoas e qualquer outro lugar que não seja Manhattan.

Vai entender.

Wallace Puosso

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Wallace Puosso
Enviado por Wallace Puosso em 13/04/2009
Reeditado em 13/04/2009
Código do texto: T1536684
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