O senhor na calçada.
Estou envelhecendo muito rápido...
Levantei bem devagar, como de costume. Olhei mas não deixei o relógio me desesperar, não deixei que meus olhos acreditassem naqueles números meio embaralhados; "Estou bem", penso com um grande bocejo.
Paro diante do espelho e não me reconheço. Acho, na verdade, que não sou eu alí; Bom dia! Não me respondeu...
Água gelada, direto da caixa que nem amanheceu ainda; Está cheia e eu vazio. Cabelos brancos já apareceram alguns. Minha senhora pergunta se vou usar tintura para isso; Claro que não! respondo com ar de homem firme e soberano sobre sua própria natureza.
As pernas ainda sofrem por causa da "pelada" no domingo passado. Sofro... Estou "jovem" dizem meus amigos. Jovem é meu filho! Respondo acreditando que já vi muitas coisas diante de meus olhos antes modernos, agora, obsoletos. Estou meio velho e meio jovem diria algum poeta bobo que mora num canto da minha cabeça.
Estou em uma grande avenida olhando o movimento frenético e perfeito dos apressados. Estou calmo e parado na calçada olhando. Do outro lado, na mão opósta da avenida vejo um senhor. Ele tem um guarda-chuva (ainda tem hifen?) e calças quadriculadas. Move-se como um vistoso fronde florido e doce... Sinto vontade de ser aquele senhor por um instânte. Quero me movimentar como ele, penso parado e ainda calmo, na calçada.