Ela morreu nos meus braços

Sempre que ouço falar em dieta, sedentarismo, obesidade, parada cardíaca ou enfarte fulminante, essas palavras me transportam a uma manhã que nunca conseguirei apagar da memória.

Ela estava sentada, rosto fechado; parecia diferente. De onde eu estava olhei e pensei: na volta vou até Nice e lhe darei um beijo na testa. E pedirei que desmanche a carranca.

Continuei minhas tarefas. Atendi algumas solicitações. Fui verificar alguns setores. O tempo corria. Tinha ainda que preparar um relatório. Fui para minha mesa, e ali me concentrei. De repente ouço alguém me chamando, com voz aflita e de urgência:

- Olhe, corra que Nice desmaiou!

Levantei a vista, e percebi que havia muita gente em volta, e dava para perceber que havia uma pessoa no chão.

Corri, e pra minha surpresa, Nice estava desmaiada. Tentei erguê-la, mas era muito peso para erguer naquele lugar apertado. Pedi ajuda. Alguém chegou e se dispôs a fazer força para me ajudar naquele momento. Quando a colocamos sentada percebi que saia sangue pelo seu nariz. Pensei: ela deve ter batido em algum lugar.

Arrumamos um carro. Mais duas pessoas se dispuseram a ir junto, e partimos para um hospital. Levamos dez minutos, pois era domingo, por volta das onze horas. O trânsito estava livre. Sinais abertos. No banco de trás uma das pessoas que ia prestando auxílio era enfermeira. E já sabia do que eu nem imaginava que tinha acontecido.

Emergência. Arrumaram uma cadeira de rodas, ali colocamos Nice. Ninguém apareceu. Depois de vários minutos, um servente ia passando e notando a cor azulada da pessoa que estava caída naquela cadeira, passou a mão por seu rosto e correu pra dentro. De repente, volta acompanhado, levam Nice e nós ficamos sem saber de nada. Vou até uma porta onde havia duas janelas, e pelo vidro vejo os procedimentos de urgência ser aplicados e nada da paciente voltar a si.

Alguém me chama, e sou responsabilizada por ter trazido uma pessoa morta para o hospital. Deveria ter deixado no local, pois segundo eles a paciente havia entrado em óbito há horas. Provei que havia chegado a tempo e ninguém havia me atendido, e que se havia um culpado, esse alguém não seria eu.

O suplício não havia acabado. Ouvi e vi pessoas zombando do corpo gorducho da defunta. Ainda tive que voltar e levar a notícia para a família que esperava que eu dissesse que ela estava internada. E por fim, levei uma parenta da Nice, que ao chegar à pedra levantou a roupa da defunta para vê como ela estava vestida.

Naquele dia envelheci. Naquele dia fiz descobertas dolorosas. Naquele dia descobri que minha Nice havia morrido nos meus braços

Ione Sak
Enviado por Ione Sak em 16/04/2009
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