A sensação do Vazio e o Nada Existencial

O vazio é um sentimento específico que se estabelece em pessoas quando se encontram sem rumo interior e sem identidade. Falta-lhe aquele “Eu Sou Eu”. A apatia e o desconforto tomam conta do “selfi”. A carência de autovalorização, auto-estima e de confiança em si mesmo, são intensos e o homem vazio torna-se insípido, monótono, sem fantasia, sem imaginação, sem vida interior. O Vazio é tão desagradável que mais parece um “sentimento pela falta de sentimento”, como nos esquizofrênicos.

Todos necessitamos dos outros para viver, obter resposta emocional, para nos sentirmo seres humanos, nos autovalorizarmos. O homem vazio é tão Vazio que se julga inexistente e, por mecanismo de contraponto psicológico, acha não depender dos outros. Os outros inexistem para valorizá-lo, o que aumenta ainda mais o Vazio.

Na sensação de Vazio, por ser desagradável, busca-se, esforça-se, procura-se, a qualquer custo, saídas para obter alívio. Uma das reações psicológicas mais comuns em quem sente o Vazio é a hostilidade, a infração das regras sociais, mesmo pagando preço alto. Muitos delinqüentes juvenis estão dispostos a pagar esse preço a fim de aliviarem tal sensação, embora por pouco tempo. Ser punido, ser retaliado, sofrer a dor pela infração cometida, vale mais que o Nada.

Muitos seres Vazios, cansados e, na incapacidade de se distraírem, buscam comportamentos excêntricos para combater o tédio. Carregam em si a impressão da vida não lhes dar o que querem. Por isso tentam se agarrar a algo, a alguma coisa, como se estivessem em permanente busca da chave mágica do viver. A vida excêntrica, mesmo sem conduzir à luz no fim do túnel, para esses, parece a solução da monotonia do vazio.

No mundo atual, tão cheio de rostos sem expressividade perdidos na multidão, mentes vazias aí instaladas, atormentadas pelo vácuo conseqüente da falta de identidade, procuram, por vezes, outras identidades que lhes permitam sentir-se mais realizadas. Identificam-se em ídolos como Raul Seixas, James Dean, Ayrton Senna ou Elvis Presley, formando verdadeiros fãs clubes, recusando, inclusive, aceitar-lhes a morte. Comportam-se como num teatro de Stanislavski, entregando-se de corpo e alma ao papel de serem outras pessoas.

A violência brutal nas grandes megálopes onde se mata por matar, se destrói por destruir, pode ser explicada em parte, pelo vazio desumano de alguns que tentam, desesperados, buscar os seus rostos. São como ratos ao se multiplicarem aos milhares em caixotes estreitos.

Já do ponto de vista do Existencialismo, o Vazio equivale ao Nada Existencial, e nem sempre é tão improdutivo assim. Tanto que Sartre dizia: “O que conta em um recipiente é seu Vazio interno”. Para essa corrente de pensamento é o Nada que sacode o homem na angustia. O Nada Existencial é o que caracteriza o indivíduo como existência, tão importante quanto o próprio Ser. O Nada, o Vazio, determina a existência do homem como diferente das coisas, pois permite, a partir da destruição, nova criação. Kierkgaard, o pai do Existencialismo dizia: “A angústia é este modo fundamental de encontrar-se quando nos situamos diante do nada”. Quando todas as coisas finitas deste mundo se acabam, fica o Vazio, o Nada como verdadeiramente absoluto.

Quer dizer então que quando o homem, lançado no Vazio da existência, é arrojado ao Nada, pode, ao invés de atitudes hostis ou da procura de outras identidades, tentar descobrir sua própria identidade consciente e revitalizar-se, sacudido pela angústia de viver, a funcionar de forma mais eficiente, estabelecendo novas estruturas que o levem a novos relacionamentos. Mas, desta vez, consciente de que deve fazer-se a si próprio, mesmo em meio da total desesperança: sabe que morrerá encruzilhado entre a angústia do seu destino e a culpa de não o cumprir.

Seja no amor, na política, na vida a dois, espaço vazio é espaço ocupado. João trai Maria porque Maria não o preenchia. Uma escola abandonada é ocupada pelo tráfíco, o poder executivo vazio é preenchido por outro poder seja político ou militar. Ao contrário do que muitos pensam, duas bocas vazias se completam, driblando temporariamente os grandes Vazios existenciais das pessoas que se beijam.

Maurilton Morais
Enviado por Maurilton Morais em 12/05/2006
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