O vendedor da farmácia

Há alguns anos trabalhei numa farmácia no interior do Piauí.

Em cidade pequena, todo mundo conhece todo mundo e por ser “farmacêutico” – era como me chamavam – eu era bem conhecido. Essa farmácia era a única da cidade e por isso vendia razoavelmente bem, muita gente da zona rural comprava os medicamentos comigo.

Certo tarde chegou à farmácia o Seu Chico, um senhor de meia-idade que morava num interior próximo, cliente antigo e pediu um comprimido para gripe.

- O senhor tem alguma preferência? – perguntei.

- Meu filho, me dê ai dois Benegripe®.

Procurei o comprimido, mas não encontrei:

- Não tem Benegripe®, mas tem outros que servem também. O senhor quer?

- Meu filho, me dá ai qualquer um que acabe logo com essa gripe.

Eu peguei na prateleira uma cartela de Apracur e mostrei pra ele:

- Esse aqui é melhor do que Benegripe®. Quando estou resfriado só uso ele.

- Sei lá. Nunca usei esse ai. Será que serve mesmo?

- Serve, Seu Chico.

Ele ficou um tanto pensativo e eu tentando vender logo o remédio e aumentar minha comissão perguntei:

- Então, Seu Chico, o senhor quer mesmo Apracur?

Não sei o que ele entendeu, mas ele me deu uma resposta meio ríspida:

- Negócio de pracur moço, eu quero é um remédio pra gripe.