E o tempo que vai pingando gotinhas...
Aniversário do meu pai de cinquenta anos, meio século... E eu me pego pensando no tempo...
O tempo que faz com que as pessoas andem, as folhas caiam, as marés subam... O tempo que metamorfiza tudo! O tempo, que, do mais cruel modo, passa.
E a gente enxerga meio emburrado que não é mais criança, que a adolescência e seus conflitos chegam... E deixa de ser a princesa, e deixa de ser a bonequinha...
E a adolescência passa e a gente morre pra não ter que ser responsável, mas, ali, atrás da porta, a maturidade.
Quem dera fosse simples assim, mas a fórmula é mesmo essa.
O tempo vai passando e nos permitindo errar sem dizer que depois vai cobrar o que foi vivido, o que foi plantado, cultivado.
Vou fazer vinte anos, pouco tempo, muito tempo. Uma vida, a minha vida... E haja tempo pra tanta história, tanta dor sofrida em vão, tanta alegria em momento impróprio...
Qual o segredo de tudo afinal?? Se no fim, tudo passa, sempre?
Minha amiga vai se casar, aquela com quem eu dividia o meu mundo de adolescente em conflito por tudo! Ela vai se casar e eu percebo o quanto o tempo passou, a menina cresceu, a adolescencia foi embora, os conflitos, eles ainda estão aqui, mas hoje são outros...
É uma máxima velha dizer que o tempo é o senhor da razão, mas ele é mais que isso, ele é senhor da razão e do coração. Ele é senhor da vida.
Ele vai andando, derramando suas gotinhas e fertilazando o terreno... E a gente vai gastando a vida, gastando os amores, gastando as dores... Gastando simplesmente. Até que uma hora, ele cobra a conta.
E a vida? E o tempo?
Foi-se.
Hoje meu pai faz cinquenta anos, daqui um mês minha amiga de segredos íntimos da adolescência vai se casar, daqui a pouco o ano já está no fim.
Eu não posso pará-lo.
Ele me assusta, mas até o rio teme quando se aproxima do oceano.
O tempo, que antes eu temia mais que tudo, me mostrou, sempre mostra, que sua passagem nem sempre nos faz melhores. Mas sempre, sempre, nos faz diferentes.
Isso talvez já valha a vida inteira.