Transmitindo a emoção?
Para meu marido Beto Raynner - repórter e radialista.
Nunca parei muito para prestar atenção aos locutores de rádio e apresentadores de TV, nem mesmo guardo o nome de um repórter. Essa área da comunicação prá mim só valia na hora de reclamar na fila do Banco ou no supermercado. E de repente me vejo as voltas com um radialista apaixonado por rádio, por entrevistas, por futebol, e pelo Flamengo. Acabo totalmente envolvida nesse meio e descubro que comunicação é um dos lados mais importantes da vida.
Viver com alguém ligado a rádio e TV é algo diferente. Um dia nunca é igual ao outro e tem sempre um nome novo na agenda telefonica.
Dia desses , após um jogo importantíssimo, fiquei lá parada, observando o repórter trabalhando... ele procurava no pequeno gravador a narração do jogo que tinha acabado de fazer e as entrevistas. Posso ver os olhos brilhando depois de cada frase, reparo no sorriso de felicidade, na expressão alegre por obter o resultado esperado e então me perco na imagem: ele de camiseta preta com o slogan da rádio, o pequeno gravador preso no cinto, a bolsa tiracolo cruzada no peito, andando de um lado ao outro da quadra de futebol de salão, esbarrando aqui e ali nos repórteres que estavam por lá.
Num jogo entre a seleção brasileira de futsal e a seleção argentina, estavam ali, no ginásio lotado - fazendo uma festa - as grandes redes de TV e rádio, a torcida realçada em amarelo - e ele lá, sozinho, com seu microfone ligado - narrando.
E gravando.
Eu quase podia ver o repórter e seu microfone, registrando a emoção de uma jogada perfeita, gravando cada momento em que a bola era chutada de um lado ao outro da quadra, saboreando cada vibração do jogador e da torcida no momento do ponto marcado. Podia até sentir aquele momento dele, único. Pois para o repórter, não importava mais nada, nem os que estavam ao lado, nem os que sempre estiveram à frente, o que importava para ele era transportar para dentro daquela caixinha a emoção exclusiva de cada lance para mais tarde passar aos seus ouvintes.
E ele consegue. Todas às vezes. Cada uma delas.
É só abrir o microfone e ele se reveste dessa magia que se chama transmitir, que é também conhecida por comunicar.
Não é fácil transmitir a emoção alheia, a menos que você sinta também. Você tem que se envolver, se colocar no lugar do outro, captar a imagem, absorver o momento, misturar tudo lá dentro do teu coração e então dizer o que você esta vendo, o que esta sentindo.
Tem gente que nasce com esse Dom.
O meu repórter, esse apaixonado por rádio, entrevistas, futebol, e pelo Flamengo...ele sabe o que sente e sabe o que nos faz sentir.