Texto para um dia de humano.

Texto para um de humano.
Alexandre Menezes

     Ah! Como muitas vezes é fascinante o pecado. Principalmente, se o perdão é favorável aos pecadores, e qualquer um deles, adora quando tudo acaba da maneira desejada. É comum o sucesso estar relacionado ao erro. Sair impune e ainda com privilégios? Parece que trocaram o sentido das coisas.

     Dormir com vontade é muito ruim e então pecamos. Acordar com remorso se tornou tão indiferente que talvez seja facilmente esquecido como ela também seria e, quando menos se espera, estão lá: o pecador e seus mesmos erros. Perdoar não significa aceitar o pedido imposto e fazer exatamente como o infrator quer. Quase sempre parece que errado é aquele que perdoa porque vincula o perdão à satisfação e execução de vontades alheias para não se tornar injusto ou ser acusado de não saber perdoar. É no mínimo engraçado ver que aquele que perdoa se torna refém daquilo que seria uma boa ação.

     Segunda, terceira, ..., milésima chance. Nossa!, como isso é bom também. Ou algumas pessoas nasceram com um dom especial de convencimento ou então outras sem nenhuma noção de discernimento. É, atualmente é mais fácil do que parece tornar qualquer vítima em um refém feliz e radiante que pula de alegria a cada reencontro ou recomeço da felicidade dos outros e ainda satisfeita por ser compreensiva e dotada de bondade no coração.
 
     Todo bom observador identifica com facilidade as persuasivas, até porque assim também é. Não há necessidade de ler livros ou conhecer diversas teorias para bolar estratégias. Quem comete conscientemente os mesmo erros observa muito bem, convence muito bem. Inclusive, abandona tudo o que pensa para conquistar cada um dos flancos, até que todos estejam dominados, sem ao menos conhecer teorias clássicas como a de Maquiavel. Um bom cafajeste sabe que o primeiro passo para conquistar ou reconquistar uma mulher é exatamente não dizer o que pensa, mas o que precisa ser dito ou tomar as atitudes necessárias.

     Não saber diferenciar pessoas, perdão, pecado, ações e tantas outras coisas provavelmente seja a fórmula da infelicidade ou o caminho mais longo para encontrar a felicidade. Podemos realmente perdoar uma pessoa mil vezes, mas certamente numa delas o perdão simples não nos tornaria reféns e sim libertos. Há perdão sem imposição e nos esquecemos disso ao associar que só existe essa maneira a ser feita. O tempo não volta, as feridas fecham e algumas deixam cicatrizes.

     O que pode ser reparado será com o tempo e o que não puder ele nos ajudará a superar ou esquecer. Necessário é perdoar e não chancelar com todas as provas exigidas. Essa ação é ato individual e divino. Ninguém tem a necessidade de provar que perdoou e isso o tempo e as decepções ensinam. Os pecadores convictos têm pressa, eles precisam retomar o controle e por isso criam um cativeiro emocional nas mentes das pessoas de pouco discernimento. Alguns dizem que a paixão tem sua culpa, outras o comodismo, o materialismo, a fraqueza da carne... sei lá. O amor próprio é um dos mais nobres sentimentos. Como pode ser possível amar o próximo se não nos amamos? E por que ter medo de arriscar já que quem diz nos amar deveria nos perdoar e ofertar outras oportunidades da mesma forma que sempre a nós é pedida?

     Passei minha vida inteira observando e ouvindo pessoas. Primeiro pela minha timidez depois pela minha profissão. São tantas histórias, tantas vidas, tantos erros que muitas vezes recordo apenas dos últimos casos ou dos que mais me tocaram e que nem sempre eram os que pareciam ser os mais graves. Quantas pessoas tomaram minhas palavras como verdade e esse poder de persuasão sempre me preocupou.
Recordo das lágrimas que vi escorrer  no rosto daquela jovem , caso clássico de casal de namorados que diz se amar e me pergunto: o que é o amor? Acredito que quem ama quer bem e sempre observo o que de melhor passou a acontecer após o início de um  relacionamento. Nesse caso, há sofrimento, desrespeito, irresponsabilidade com compromissos, semanas inteiras de choro, dias perdidos por motivos diversos...

     Quem ama não aprisiona, não oprime e muito menos prejudica o futuro do outro por simples desejos ou interesses egoístas. Sei que vou esquecer todas essas histórias mas, espero que, no futuro, os cativeiros não as afetem tanto ao ponto viverem numa dessas prisões sociais . Muitas vezes, o que é considerado como chance ou prova de perdão oferecido por nós a alguém que nos cobra, não passa de uma oportunidade que perdemos de estarmos libertos e felizes. É, choramos de felicidade sim, porém lágrimas são associadas a dor e tristeza e um rosto molhado às vezes nos impede der sermos felizes.