O Abrigo, casa nova.

“Eita chuva brava, desce do céu rasgando as nuvens e o coração do trabalhador que um dia teve uma casa”, acordei ouvindo o pai dizer isso pra o seu Antônio, que cuidava dos gados lá de casa. Ele (o pai) me disse que antigamente a chuva era motivo de tanta alegria, e agora vejam só que alvoroço, porque choveu de mais.Tudo que é de mais estraga, não sei de quem é essa frase, mas parece que é de Ditado Popular, eu não sei bem.Sei que agora tudo foi trocado, a seca partiu foi para os lados do sul, parece que lá tem mais emprego, eu também não sei bem, isso agente nunca sabe...

O que eu sei é que meu pai tinha uma fazenda, e agora tudo sumiu. A colheita tomou muita água, a terra tomou muita água e minha casa também. Estão indo todos embora, e essa cidadezinha, que eu fui criado, está ficando cada vez mais deserta de ser humano.

A cada dia que passa eu começo a acreditar mesmo que o sertão pode virar mar, antes eu achava que era bobagem.Hoje mesmo, aqui nesse abrigo vi chegar mais gente dos arredores de onde eu morava.E cada vez mais apertado.Ontem tive que fazer dos pés do pai o travesseiro...

Mas o que eu matuto comigo mesmo o dia todo é uma coisa só: como é que pode o homem da cidade grande, tão engenhoso do jeito que é, não ter um abrigo um pouco maior?Isso eu não sei também.O que eu sei é que apertado continua, mas a gente vai dando sempre um jeito...