AYRTON SENNA DA SILVA

Na primeira metade dos anos 80, eu ainda era um adolescente. Já naquela fase, em que não apenas o jogo de bola, a pipa, o peão e outras brincadeiras chamam a nossa atenção. Começamos a dividir o jogo de futebol com festas, garotas, preocupação com o futuro.

Mas justamente nesta época da minha vida, apareceu para o mundo, aquele que considero o meu maior ídolo Ayrton Senna da Silva.

Algumas pessoas quando perguntadas que são seus ídolos, citam Deus, seus pais. Deus e pais não são ídolos. Eles estão acima dessa definição, estão em um patamar superior. Deus é divindade, é onipresença, é amor, pais são exemplos, dedicação, amor a seus filhos.

Mas os ídolos também trazem emoções, felicidades, nos fazem derramar lágrimas, sorrir, a acordar de madrugada, a fazermos loucuras.

Lembro quando eu ia para o colégio, o ônibus me deixava a uma distância de cerca de 1 km da escola e me lembro que assim que descia do ônibus, começava a minha corrida imaginária. Eu, claro era o Senna, na época com sua Lótus preta ou amarela. E na minha corrida, apressava o passo e cada pessoa que eu passava, comemorava como se fosse uma ultrapassagem sobre o Prost, o Piquet ou o Mansel. E nesses “grandes prêmios matinais” pela rua Padre Ibiapina, até chegar ao Liceu do Ceará, o “meu Senna” sempre era o vencedor.

Domingo de Grande Prêmio para mim também tinha um ritual. Não importava se era o Grande Prêmio da Austrália ou do Japão, que começavam sempre de madrugada.

Eu acordava, deitava no sofá da sala e de lá só me levantava quando terminava a corrida ou se por algum motivo Senna saísse da prova. Naquelas duas horas de corrida eu não comia, não bebia e me sentia naqueles circuitos, acompanhando cada volta, cada curva do meu eterno ídolo.

Foi assim por mais de 10 anos. Em 1994, o adolescente já tinha 24 anos, já não me deitava no sofá da casas dos meus pais, agora jogava as almofadas na sala de tevê e ali era meu local por duas horas, brincadeiras de escola foram substituídas por trabalho, agora não eram mais namoradas e sim esposa, o calor de Fortaleza foi trocado pelo frio de Garanhuns. Novos amigos, novos lugares, mas o mesmo ídolo.

No dia 1º de maio de 1994, lá estava eu deitado no chão da sala, assistindo ao Senna como sempre em acostumei a vê-lo: na frente, liderando o Grande Prêmio de Imola, agora no seu carro branco e azul, mas naquele dia, Senna não recebeu a bandeirada ao final da corrida.

Naquele dia, meu maior ídolo se foi, mas ficaram para mim as lembranças das ultrapassagens: as minhas pela Padre Ibiapina e as de Senna pelo mundo. Ficaram nas lembranças as minhas inesquecíveis manhãs de domingo.

E a certeza que Ayrton vive e renasce cada vez que eu o revejo cruzando a linha de chegada em primeiro e o locutor dizendo: Ayrton, Ayrton, Ayrton Senna do Brasillllllllllll...tã-tã-tã-tã-tã-tã-tã......