Viver sem ti

Parece-me que uma bomba irá explodir. Se vocês pudessem sentir, como sinto agora, diriam que sou louco, ou que vivo um devaneio. Acontece-me uma aceleração cardíaca descomposta, ausente de significados (ao menos perceptíveis). Encontro-me frente à senhora. Palavras não me saem à boca; ouvidos perdem suas funções; meus óculos, preciosos, desviam-se como que em uma fuga de olhar mútua, e destinam-se às nuvens, com medo da nítida retidão. Há certo dispositivo em mim que não está disposto a colaborar; ele cintila para lá e para cá e não quer frontear um sentimento (e, quem diria, logo comigo - que carrego a sentimentalidade em meu ser). Desfaço-me em gotas de suor; vejo-me frio e arredio; curvo a face, vejo os lados; canso-me. Quando a parte física desiste de se converter em sintomas, submeto-me em inteiro ao sentir. Ouvi, “simplesmente”, o seguinte: Viverias sem mim? Respondi: sim, viveria sem ti: viver é uma conseqüência de estar vivo; entretanto, não viveria bem sem ti. Isso, de forma alguma. Viver e não viver bem é não viver. Cheguei a um erro lógico, porém verdadeiro (e só quem sente o que sinto pode compreender isto).