BRIGUEI COM MEU COMPUTADOR

Uso muito o computador. Na clínica eles existem para cadastrar clientes, fazer pesquisas estatísticas, emitir receita de medicamentos e lentes, controle financeiro para o contador etc. Em casa ele me serve para estudar: escrevo ou faço resumos de livros, revistas ou CD-ROM’s, escrevo "estas mal traçadas linhas" e resolvi que entraria na Internet, pois é uma fonte de muita informação em qualquer terreno e, no meu caso, no campo da medicina.

Sou meio metido de entender de eletrônica e computação. Costumo montar meus próprios computadores, adquirindo as partes e fazendo a montagem, não por economia, mas pelo prazer de fazer. Então fui numa loja e comprei uma placa de modem da mais moderna e dei início ao trabalho.

Atualmente o sistema que usamos no computador é capaz de identificar a placa no momento que você o liga e faz as configurações, ou seja, prepara aquele componente para trabalhar maneiro.

Mas eu que já sou macaco velho, por alguma intuição ou experiências anteriores, deixei o gabinete sem a tampa e fora do seu lugar habitual. Ficou bem a minha frente, de barriga aberta. Liguei, fez toda aquela encenação que todos fazem no início, parecendo estar despreguiçando após acordar, meio ainda sonolento e, não sei não, me pareceu de saco cheio.

Mas, oh! Surpresa. Funcionou tudo a contento. Identificou a placa, pediu e sempre usando por favor ou “please”, muito educadamente que eu colocasse o disco de configuração. Assim fiz, demorou alguns segundos e me disse que tudo foi realizado a contento. Imaginei: quebrei a cara! Só me faltou pedir-lhe desculpas pelo mau juízo.

Já havia feito a minha inscrição no servidor local, conectei o cabo no soquete do telefone e, com o mouse, apertei a tecla de “conectar”. Foi aí! Ele automaticamente emitiu um ruído, um pufffff! Como se uma bola tivesse sido furada e abriu uma tela e me dizia: “desconectando. Não há modem instalado ou está desligado etc, etc”.

- Mas como não há modem instalado? Você mesmo disse no início até a marca e o modelo? Tá lá no início. Você mesmo disse que estava configurado com sucesso e agora vem com essa?

Naquela altura do campeonato eu já estava quebrando o pau com ele, não falando ou gritando, mas pensando. E então olhei para o danado em cima da mesa e na frente existe uma gaveta do winchester e ela me pareceu estar rindo de mim.

Bem, o que fazer! Vou recomeçar tudo. Quem sabe ficou algum mau contato na placa e por qualquer motivo agora ele resolveu cortar de vez a ligação. Desliguei tudo, retirei a placa e a coloquei em um outro slot. Liguei de novo, toda aquela iniciação, identificação da placa ok, vou conectar e...Puuufff! E lá vem a mesma mensagem: não há modem... etc.

Então só poderia ser conflito. Não se assustem, são termos usados na linguagem técnica. Significa que há mais de um dispositivo que chamamos hardware usando as mesmas vias e entram em conflito. É um pouco difícil explicar isto, mas o computador é uma máquina muito rápida, mas muito burra, toupeira mesmo. Você tem que a mandar fazer tudo, sempre as mesmas coisas e repetindo a cada nova ordem. Então quando a gente instala um hardware qualquer, tem que estipular uma série de coisas para ele: a porta de entrada ou de saída (pensam que é brincadeira? Não é não! Computador tem portas), as vias que ele deve acessar para determinada tarefa, se a via é compartilhada com algum outro dispositivo ela tem de dar passagem a quem tem prioridade etc. E olhem bem que tudo isso é feito numa velocidade próxima a da luz.

Então eu instalei um programa que acompanha a placa e serve exatamente para configurá-la automaticamente, escolhendo lá dentro, nas entranhas do computador, as melhores portas, vias etc. Já de cara ele me perguntou se queria que ele fizesse de modo automático ou se eu queira escolher. Ora, se ele foi produzido para facilitar as coisas e para eu não ter trabalho por que aquela pergunta cretina? Apertei no “auto-detect”. Olhem, parece que ele nem foi lá verificar alguma coisa. Quase que imediatamente abriu uma grande tela e me dizia: “Não há modem instalado...” e me dava um monte de sugestões como se ele fosse o dono da verdade.

E agora! Vou verificar tudo de novo. Fui lá ao setup e observei a porta “COM”. Livre. Coloquei naquela porta livre. Muito bem. E a “IRQ”? A nove está livre. Bem, vou destinar esta para o modem. Liguei. Puuufff...Desgraçado está a fim de me enervar. Mas hoje é dia primeiro, início de outro ano, eu estou em paz com a vida... Não vou ligar. Então deve ser o “DMA”. Estava no cento e dezessete e eu acho que deveria ser nos duzentos e dez. Mas como mudar? Não tenho acesso.

Fuça daqui, fuça dali, encontrei um lugar onde eu podia mudar o tal do DMA. Cliquei em cima. Abriu-se uma tela com dizeres que mais pareciam de um ditador, como “você não pode fazer isto ou aquilo; é de competência do sistema etc, etc” agora sem aquela delicadeza de please pra lá, please pra cá. Então eu entendi. Achei o ponto fraco dele. Está chateado porque eu descobri o calcanhar de Aquiles. Desabilitei a janela e mandei ver. Troquei. Outra tela me advertindo que aquela minha atitude poderia ser etc, etc. e me dava duas opções: uma tecla “SIM” bem discreta, quase escondida, para eu confirmar a mudança e outra “NÃO” toda realçada, quase rebolando a frente dos meus olhos. O danado ainda queria aplicar outro golpe sujo.

Mandei brasa no “SIM”. Você pensa que ele atendeu? Abriu uma nova tela, agora com a tecla “SIM” toda refestelada e me advertia severamente que ele somente aceitaria aquela mudança se eu concordasse com a possibilidade de em qualquer ocasião que necessitasse daquela via, ele a apanharia de novo. Safado! Não tive outro jeito senão apertar o “SIM” e entrar na Internet. E olha aí em baixo que meu endereço está lá.

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Obs: Esta crônica foi escrita há muitos anos, talvez já beirando os vinte.

Dbadini
Enviado por Dbadini em 12/05/2009
Código do texto: T1590482