FALAR COM DEUS

Sonhei com Deus. Interessante sonhar com alguma coisa que a gente nunca viu, mas Deus é Deus; cérebro é cérebro e, portanto, tudo é possível.

Era grande, muito grande, colossal, enorme, infinito. Todos os qualificativos seriam poucos. Eu não conseguia vê-Lo todo. Eu era muito pequeno, não insignificante, mas eu era sim muito pequeno diante Dele. Estava ali perto de mim e, mesmo se quisesse descrevê-Lo, eu não conseguiria. Às vezes se me parecia um senador romano; em outras um grande filósofo grego e até mesmo um grande, garboso e dourado guardião dos Césares. Era transparente, diáfano, indescritível.

Mas uma coisa garanto: não era aquele Deus ranzinza, temperamental, raivoso e até mesmo inconsequente que chutava tudo que estivesse à sua frente; derrubava o pau da barraca; jogava flechas de fogo em forma de raios, fazia um auê danado lá em cima quando algum dos seus filhos aqui embaixo fazia uma titiquinha de nada. De jeito nenhum! Longe disso! Mas... Muito longe mesmo!

Tão pouco era aquele ingênuo, injusto, ambíguo que fez homem, mulher, colocou-os no Paraíso, deu ordens para crescer e multiplicar e depois os castigou severamente, simplesmente porque Adão comeu a maçã que Eva lhe deu. Tenha paciência! Como é que poderiam reproduzir se não comessem a maçã? Naquela época? Hoje ainda se dá um jeitinho sem comer maçã e se come muita maçã sem outras consequências, mas lá no Paraíso e no princípio de tudo! Como? Não era esse o Deus que eu estava diante. (eu ainda não consegui manjar o que estava fazendo lá a tal serpente... Será que era para dar uma forcinha? Serpente? Cada tara!)

E quando, por qualquer falha nossa, dos nossos antepassados, Ele despejava secas, pragas, peste, inundava tudo, matando homens mulheres e crianças? E destruía cidades inteiras e transformava mulher em sal, só porque, por curiosidade, olhou para trás? Mulher foi e continuará sendo curiosa e Ele deveria saber disso. E sabe! Poderia muito bem somente passar um bom corretivo, um sabão daqueles... Mas destruir tudo e todos! Definitivamente o Deus que eu estava diante não era aquele Deus vingativo, malvado, pirado.

Desapareceu, acabou. Não sei se acordei. Só dei conta do sonho no dia seguinte. Achei engraçado, mas um pouco frustrado. Eu queria perguntar-lhe uma coisa, tirar uma dúvida. Não deu!

Acho que quando Ele fez o Universo, agiu como um engenheiro, matemático, físico, químico, arquiteto e por ai afora. Bota talento nisso! Ali tudo funciona com precisão matemática, harmoniosamente e sem falhas, ou melhor, quase sem falhas e mesmo estas são admiráveis, fabulosas, fascinantes. Quando foi fazer o ser vivo, bilhões de anos depois, não teve o mesmo cuidado. Parece que estava entediado, sem inspiração. Jogou para lá e deixou ver! Erro daqui, acerto dali; não deu certo este projeto, desaparece, morre. Começa outro, graças à mutação. E assim tem sido.

Nisso apareceram coisas até mesmo, na minha visão, inúteis. Exemplo? Dinossauros. Para mim só serviram para repassar genes e alegrar a criançada de hoje, encantar paleontólogos e, pelo que sei, dar origem às aves. Aqueles mostrengos voadores daquela época hoje são os apetitosos franguinhos assados ou preparados da maneira que mais apetitar. Até mesmo a espécie humana, apesar de ter sido brindada com um cérebro extra, dotado da fala e, em consequência, comunicação, ainda não se entendeu. Precisa tomar juízo porque senão... Acaba também! E de tentativa em tentativa, de mutação em mutação, um dia dará certo! Será? Tô pagando pra ver!

Mas, pensando bem, o único que sabe falar com Deus é o Gilberto Gil, através daquela maravilhosa e divina canção. Eu não sei a letra. Se soubesse, não sei cantar e muito menos sou Gilberto Gil. Fazer o quê?

Um dia, inexoravelmente, eu vou encontrar-me com Deus de novo. Espero e torço para que muitos e muitos anos ainda se passem. E quando chegar ao portão celestial não me importará se puder falar com Ele ou não. Já estarei num outro plano e – sei lá! - não haverá mais nenhum interesse nessas coisas terrenas. Mas, se depois de bater na porta do Céu e Ele vier receber-me, eu somente queria ouvir Dele uma coisa, uma palavrinha só, tiquinho à-toa:

- Entre!

Eu mereço.

Dbadini
Enviado por Dbadini em 13/05/2009
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