Texto para um dia de reencontro.

Texto para um dia de reencontro.

Alexandre Menezes

Antes da despedida, poucas ponderações sobre o encontro foram feitas. Ela, como ele, demonstrava total indiferença sobre o caso. Não se tratava de um encontro especial, mal se conheciam, ou não se conheciam mesmo, e por algum motivo, que não buscavam explicações, ali estavam.

A noite começara agradável e, perante a decisão de reaproximação, resolveram aproveitar mais um pouco, tentar um pouco mais. Tinham objetivos semelhantes. Como em todas as outras oportunidades, preferiram arriscar algo novo em diferentes bocas e aromas. Dessa vez não deu. Uma inevitável e rápida abordagem fim de festa foi o necessário. Já era esperada. Ela prontamente dispensou sua carona e o acompanhou para um destino indiferente e de ações esperadas. Única opção.

Ambos previam e queriam as carícias. E naquele resto de madrugada energia não foi poupada. Gemidos. Sussurros. Gritos... Ao terminarem, nenhuma promessa feita, nenhum carinho nos gestos. Nada além de uma conversa que nem sequer chegava ao dia seguinte. Nada muito além das desconfianças em relação às identidades e informações prestadas. Diziam por dizer.

Ele afirmara ter gostado do casual reencontro e que contava com a possibilidade de um próximo desde que fosse preferencialmente da mesma forma. Não a condenou por ter em cada encontro um nome diferente, até porque também era costume mentir o seu, sua profissão, seu perfume... Estratégia comum habitual, nada original. Na realidade, era uma relação do acaso em que era oferecida uma reciprocidade carnal. Ninguém reclamava.

Novamente se jogaram na cama. Houve um íntimo gemido na despedida. Ela parecia ser empalada aos moldes do prazer, parecia gostar, não sei, não reclamara. Tomaram banho e arrumaram-se rapidamente para evitar qualquer tempo adicional. Separados, dali em diante, dormiriam em camas diferentes, em lugares diferentes e voltariam à vida que escolheram sem nenhuma cobrança. Nem mesmo um telefonema era esperado.

Depois de tudo, pensariam pouco sobre a noite passada. Afinal, nada representavam um ao outro, não existiam motivos para lembranças e novos casos se tornariam temas das semanas que seguiriam. Para cada caso vivido um automaticamente desprezado. Alguns afirmam que optaram por não amar, outros acreditam que sofreram demais por amor. Talvez não importem mesmo com o mal que possam sofrer por viverem de forma tão rotativa como a cama da noite passada e de tantas outras. Não consigo explicar.