A BANALIDADE DA VIOLÊNCIA

Num perímetro urbano qualquer, nada acontece ao acaso...

Somos todos reféns da mesma sociedade, do bem nascido ao pobre miserável, alcançando indiscriminadamente o empresário, padre, prefeito, magistrado, médico, delegado ou deputado.

A violência não faz distinção, desmascarando-se dia a dia, ampliando cada vez mais seu raio de ação, atingindo ruas e esquinas, casas e estabelecimentos comerciais, ou simplesmente, o inocente cidadão que passa...

Em cada desvão do caminho existe, à espreita, uma alma sinistra que, como fera predadora e traiçoeira, apenas espera que surja um inocente para atacar.

O valor de uma vida é pouco, ou mesmo, quase nada. Às vezes, mata-se por vil moeda, outras, por causa de um aparelho celular...

Com assustadora freqüência, o anjo da morte, seguindo sempre de muito perto, procura somente uma brecha, para legitimar a sua intenção: matar pelo prazer de matar...

Esta violência, não compreende apenas os crimes organizados, mas todo o efeito que provocam sobre as pessoas e as regras de convívio na cidade.

A violência interfere no tecido social e prejudica a qualidade das relações inter-humanas, corrói a qualidade de vida do cidadão.

Assim, os crimes estão relacionados com as contravenções e com as incivilidades.

Gangues urbanas, pichações, depredação do espaço público, o trânsito caótico, as praças malcuidadas, sujeira em período eleitoral compõem o quadro da perda da qualidade de vida.

Certamente o tráfico de drogas, talvez a ramificação mais visível do crime organizado, acentua esse quadro, sobretudo nas grandes e problemáticas periferias.

Sonhamos com Justiça real, transparente, rápida, segura! Mas como? Se o Estado é falho! Insensível, pouco ligando para as mazelas das criaturas que, pelo menos dentro da lógica, estariam sob sua responsabilidade, pois cumpre a ele, o Estado, proporcionar segurança e Justiça à população. Sim, a Justiça, nesta dimensão temporal, inegavelmente é obrigação do Estado.

No Brasil, a violência que antes estava presente nas grandes cidades espalha-se para as cidades menores, à medida que o crime organizado procura novos espaços.

A fragilidade moral existente na sociedade, principalmente nos jovens, é alarmante e vem crescendo assustadoramente, o autêntico culto à violência tem se fortalecido e ramificado com a certeza da impunidade.

E, em síndrome, vamos vivendo, numa cidade grande ou pequena, habituando-nos ao convívio com o medo, trancando-nos em casa e deixando à solta os criminosos...

Embora conscientes de que a estabilidade de qualquer sociedade humana tem de estar baseada no pilar formado pelo tripé educação-saúde-segurança, fechamos os olhos aos desfeitos dos governos que, desde há muito, vêm se somando sem deixar margem a qualquer possibilidade imediata de correção. Esse pilar está bambo, manco... E isso porque lhe foram acrescentados dois pés a mais. E muito grandes, por sinal: a corrupção e a impunidade.

O resultado está aí, à mostra, escancarado para qualquer um ver: acabamos por viver sem nenhum afeto, onde a barbárie inclemente impera, onde ela já faz parte de uma triste rotina.

A violência tornou-se uma banalidade.

SSala
Enviado por SSala em 15/05/2009
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