QUE SORRISO ERA AQUELE?

Ontem assisti a um programa “global” que falava sobre a violência contra as mulheres, pedofilia, crimes desse tipo.

De repente me pego estática, imóvel, com os olhos pregados na tela como se não acreditasse no que via. Ao mesmo tempo em que ouvia, pensava. Crianças estupradas, adolescentes esquartejadas, mulheres espancadas, sem vida. Nada mais traria a vida, a esperança, o sonho, a ingenuidade, e o agressor sorria...

O promotor mostrava as provas na Internet, as conversas, e o agressor sorria...

Ao mesmo tempo em que me perguntava que mundo é esse em que vivemos, onde impera o desamor, o desrespeito, a banalidade da vida, me perguntava também se aquele ser sorridente era culpado sozinho. Será que era um sorriso irônico? Debochado? Nervoso?

Será que sorria para nós? De nós? Dele? Conosco?

Levantei muitas hipóteses, coloquei-me no lugar daquelas famílias clamando por justiça, coloquei-me no lugar daquelas crianças, daquelas mulheres e só consegui ter um enorme sentimento de culpa.

Falamos tanto que a justiça não é feita, que o sistema não funciona, que o mundo está perdido, que as leis estão falidas e quem coloca cada um ali naquele papel?

Lembrei que não sabia mais o nome do vereador em quem votei, muito menos dos deputados, nunca cobrei nada, nunca fiz nada, apenas fico totalmente pasma e indignada com os fatos, e faço o quê?

Aquele agressor, assim como outros, recebeu a sua pena, mínima pelo que fez, mas não trará a vida, não trará a infância e a ingenuidade roubada, não trará a paz às famílias que sofrem, não trará o sorriso, não igual ao dele, mas o sorriso sincero, puro, das crianças e mulheres que não conseguem mais sorrir.

E eu me culpo...

Ontem, por um instante, tomei consciência da minha parcela de responsabilidade nesse mundo em que vivo, pois faço parte dele, sou uma cidadã que também vive com medo, que por muitas vezes não consegue sorrir, mas ele? Ele sorria...

(16/05/2009)

Mariza Schröder
Enviado por Mariza Schröder em 16/05/2009
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