VOCÊ ME AMA, VOVÔ?

A minha neta... Já soube: quando eu escrevia sobre as coisas da fazenda, da vida de antigamente isso trazia para alguns leitores um interesse, uma grande satisfação ao retornar às coisa vividas e passadas. Não pensem que não mais escreverei sobre elas, somente não estou encontrando tão facilmente mais assunto no qual posso me espelhar para desenvolver uma crônica de reminiscências que, aos que têm coragem de ler, cheguem ao final sem arrependimentos. Enquanto procuro fatos passados, recordações da minha vida e de outros da roça, me apego agora aos fatos recentes e eles estão intimamente ligados aos meus netos. Perdoado por algum tempo? Heim?

Não que eu considere sejam os meus netos os mais importantes do mundo; não são melhores do que os netos de nenhum outros avós, mas são com eles que convivo e tenho a oportunidade, pelo espaço que a Voz da Serra me concede, para que eu os proclame a oitava, nova, décima, ou nenhuma dessas maravilhas do mundo para mim, a minha Isa e à detentora e heroína de toda esta doce aventura, Mércia, nossa filha e a mãe de ambos.

Alice e Dudu. (Eu o chamo Duduzinho. É muito moleque e eu o adoro, mas Alice tem ciúmes. Me faz de cavalo. Pode?). São as duas criaturinhas que mais exigem e me impõem, sem o consciencial, de que tenho que sobreviver o máximo para, de uma forma ou outra, os proteger, já que sou a pessoa diretamente ligada a eles com mais informações da vida, dos percalços, das invernadas sobre as quais um ser vivente deverá caminhar confortável e seguramente. Nada disso me assusta, pois já passei por todas e não achei nada extraordinário, já que lá tínhamos força, éramos jovens, fomos duros na queda sob o nosso ponto de vista de então. Fomos heróis? Qual!

Tá na cara que não é bem assim. Muita coisa pode ser mais bem organizada, realizada e outra poderemos deixar de lado que não fará nenhuma falta ao nosso desenvolvimento enquanto nos tornamos adultos. Sou um destemido crente de que no mundo está faltando mães. Estou perfeitamente ciente de que o pau vai comer firme sobre o meu costado. Não me importo. O mundo está acelerado, mas a máquina em que ele está embutido ainda está muito aquém do que seria necessário para essa empreitada futurista. Mas que está faltando mãe no mundo, ah! Isto está! Não sou machista, mas que está faltando mãe no mundo, ah! Isto é vero! Os babies não estão nem aí para o quanto em dólares terão. O que lhes interessam é ter mães agora e já com ou sem dólares.

Tenho visto e lido estudos de gente que merece credibilidade, que não aparece nos meios de comunicações porque não compraram votos descaradamente para isso. Mentirosos contumazes? Nunca! São seres simples, estudiosos sem nenhum compromisso se vão ficar quatro ou oito ou eternamente no poder. Nem lhes interessam o poder. São cientistas que dão ao mundo as suas vidas para tentar fazer essas bestas enxergarem que este treco está em perigo, que não somos tão poderosos assim e que de um momento para outro poderão reverter todas essa bagunça que os ditos seres inteligentes estão fazendo com o nosso habitat. Pena que eu não estarei mais estar aqui para, então, morrer de rir. Se tiver oportunidade, vou sacolejar os meus ossinhos na tumba. Sabe? Poderá ser até divertido dar uma faxina nos pozinhos acumulados.

Mas estou deixando minha herança aqui nos meus filhos, netos e no mais que vier porque a provável derrocada final poderá nunca acontecer quando a humanidade tiver mais poder intelectual e não político burro. Juízo, afinal. Pensar, eis a questão! Isto não vai dar um retrocesso de cento e oitenta graus na maneira de agir e conduzir este grande mistério chamado Terra, mas poderá minorar os seus lamentos. A nossa Terra não acabará por um longo milhão de anos. Aliás se a espécie humana for varrida, Ela sobreviverá muito mais forte, elegante, faceira e provocante sem rugas e cicatrizes que nós, os antecessores imbecis, provocamos em passado remoto.

Quero que aos que restarem tenham no mínimo o máximo que tivemos. Depois da nossa ida, dentro dos parâmetros que o meu cérebro me concede, eu não poderei estar presente nem tampouco ter um mínimo de sentimento por aquilo que será o revertério de tudo o que imaginei ser este planeta no futuro.

Mas o que mais me aflige, o que mais me deprime é o fato de pensar que jamais poderei ouvir da minha netinha Alice, de apenas dois anos e meio, sem mais nem menos, somente nós dois no meu escritório, estando eu escrevendo provavelmente outra crônica que nem essa e ela rabiscando qualquer coisa, me interrompeu e perguntou de chofre, com a carinha e postura tímidas:

- Vovô! Você me ama?

Para ela eu somente disse sim e muito. Para mim, agarrei-a num comedido, mas apertado abraço, encostei meu rosto ao dela e chorei baixinho, contido. Chorei muito! Muito mesmo! Nunca imaginei ter de responder a uma pergunta como àquela para um ser tão precoce. Eu fiz tudo para que ela não notasse que amar fosse uma coisa que implicasse choro, dor, desencanto ou algo pior que não me vem à cabeça agora. Ela é ainda tão pequenininha e não saberia distinguir de relance se há vários tipos de choros, até os falsos. Chorei muito. Foi muito inesperada a sua dúvida em relação a mim, ao amor real. Será que eu a convenci? Gostaria de uma certeza disto, pois eu a amo sobre tudo. Que os Deuses me perdoem. Se algum deles tem tantos filhos, saberá da minha opção e me porá a mão na cabeça, dará alguns tapinhas nas minhas costas, nem que sejam por rito virtual. Acredito que Deus evoluiu junto com o tempo. Assim, acho que ele estará mostrando para mim a mão direita com todos os dedos fechados e o polegar para cima. Sabe como? Tal como a Alice faz para mim em todos momentos de aprovação ou de concordância.

Minha neta e o meu neto são tudo de mais valiosos para mim. Tudo sem muito interesse, mas perguntar-me se os amo? Foi demais para a emoção de um avô com mais de setenta anos e que jamais pensou em responder uma pergunta com esta conotação, nem quando jovem.

A Isa? Ah! Nunca me perguntou! Mesmo por que eu admito que ela jamais teve dúvida disso, graça às minhas atitudes com àquela que foi a escolhida para compartilhar comigo destas maravilhas que os nossos descendentes terão de perpetuar e compartilhar dos nossos genes. Alguma coisa de nós será imortal através deles. Nós seremos imortais através deles. Não duvido. E eu ainda nem sabia nada disso quando a escolhi e nem ela a mim. Simples acaso. Interessante, não é?

- Vovô, você me ama!

O que ela entende por amar? Eu? Que entendo? Você, meu companheiro vovô, o que responderia? Estive correto? Tô numa pendenga, veio! Me ajude. Tô precisando de uma boia! A água já chegou ao nariz!

Quarta-feira, 28 de maio de 2008

Dbadini
Enviado por Dbadini em 16/05/2009
Reeditado em 17/05/2009
Código do texto: T1598064