A ilusão da vida

Parei no sofá de minha sala para escrever. Aqui, o tic-tac do relógio ao fundo tenta disfarçar a ilusão da vida. Essa que se expressa pelo tempo interior e que nos choca por sua veracidade. Nele, as pessoas aparecem em molduras obsoletas que representam as mais marcantes lembranças: A primeira amizade, a primeira descoberta e o primeiro amor.

Quase sempre, resumimos o que somos nesse trio sincero. E o tempo se constrói de dentro pra fora numa tentativa de apagar o que a realidade quer nos dizer.

Por nossas emoções solidificamos as imagens que impulsionam as nossas vidas. Um caminho não menos ilusório do que acreditar naquele amor mencionado há pouco.

E quando já nascemos, entretanto, de dentro pra fora? Tento uma resposta para essa pergunta ainda pouco discutida por aí.

Porque discutir com o Outro é fácil demais e não, uma postura de si mesmo. Amamos àquilo que nos move com uma força maior do que o amor a si mesmo.

Daí entendo o quanto o ser humano se apega ao tempo subjetivo. Esse senhor dos sonhos que nos remete a uma realidade apenas nossa.

E a vida segue-o sem discutir. Não acredito que as pessoas racionais o desprezem totalmente. Pois estou falando do tempo de maturação pessoal de cada um.

Surpreendi-me, então, com esse processo tão objetivo que pode nos iludir por anos. Ainda que sonhar seja o único ato gratuito em nossos dias.

O que me fez descobrir um método usado pelos céticos para esquecê-lo. Vejo todos apagarem o próprio coração numa tentativa frustrada de domar os sentimentos.

Um colega me disse que podia guardá-los e usá-los quando quisesse. Quanta ilusão! E ele falava com um entusiasmo de quem havia conseguido.

Mas bastava discordar dele para ouvir ímpetos daquele orgulho que se sentia magoado. Isso sempre me chamou a atenção.

Afinal, esbarrei com muitos orgulhosos em minha vida e entendi que eu era também, embora o tempo interior tenha me ensinado a ser mais humilde comigo mesmo.

Esse texto é uma prova disso. Escrevo-o olhando o relógio e tentando lembrar o porquê de tantas "desilusões" com a vida.

Chego a pensar no tempo em que poderia tê-las evitado com algumas pessoas. Pois tudo acontece sem que possamos perceber o quanto caminhamos na vida.

Fato que remonta à idéia de que esse tempo não pára e de que devemos selecionar quem irá fazer parte dessa construção temporal do nosso ser.

Vivemos , portanto, em um mundo que não nos possibilita amar a si mesmos, mesmo que essa afirmação nos pareça absurda.

Somos cultuados pelo Outro que nos cobra o que ele pensa que somos em Sociedade. Com pré-conceitos coletivos que regem o tempo de fora para dentro: o tempo objetivo.

Esse costuma se chocar com o subjetivo e promover uma tempestade em nossa mente, que se transformará , talvez, em um texto. No tempo em que o ser já sabe o que a vida lhe reserva: Ou seja, entendemos o fato de que nos iludimos para alcançar a própria realidade de nossa vivência.

Rômulo Souza
Enviado por Rômulo Souza em 17/05/2009
Reeditado em 28/07/2009
Código do texto: T1598494
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