Biografia do Pinguim Gelado

Muitos de nós não temos lembranças agradáveis do nosso período de infância... Quantos de nós não tivemos mais dissabores do que alegrias pueris? Eu, o amigo de vocês, Pinguim Gelado, também fui um cara que passou por grandes perrengues... Pra sobreviver eu tive que disputar a tapas as sardinhas com os outros do bando... Nadar mais que os outros, usar de mais malandragem pra fugir de predadores...

Arrumei muitas inimizades provocadas e inimigos gratuitos que simplesmente não iam com a minha cara por acharem que eu era um metidinho a besta, enrolão e traira... Bom, pensando bem, não eram tão gratuitos assim, uma vez que muitos deles tiveram as suas namoradas roubadas por este Pinguim galante e charmoso...

O fato é que o pequeno Pinguim teve que comer o peixe que Poseidon transpassou com o seu tridente pra sobreviver... Sei que vocês já ouviram milhares de histórias parecidas com a minha, mas é a mais pura verdade... Eu, com poucos anos de vida, já batalhava vendendo chiclete de plâncton nos semáforos da Patagônia e fazia malabares com muita habilidade... Matava um leão por dia juntamente com um parceiro de desdita e de peleja, Francisco era o seu nome... Um leão marinho cujo pai tinha morrido num acidente marítimo, pois um navio baleeiro o atropelou e ele teve a vida interrompida, deixando viúva e mais quatro filhos, entre eles o meu amigo, que era o filho mais velho... Ele passou a ser o arrimo da família, que com a morte do pai provedor, ficou desamparada...

Eu não era esteio de nada, mas tinha que comer, né? Nós tentávamos ganhar din-din de tudo que era jeito, mas não tínhamos muito talento para “atrai-lo”.

Um dia eu disse ao Chico que iria emigrar pros Estados Unidos do Alasca, pois a vida na Patagônia não estava dando certo pra mim... Eu tinha uns parentes por lá que trabalhavam numa multinacional norueguesa que era especializada em bacalhaus finos... Eu sempre fui um apreciador de bacalhau e poderia usar o meu talento para subir na carreira junto à empresa...

Assim, lá fui eu me enveredar pelas terras longínquas do Alasca... Consegui o emprego, estava me dando bem, mas como sorte de Pinguim não dura muito, eu me enrabichei pela filha do diretor da empresa... E por causa do bacalhau dela, eu ganhei um pé na bunda...

Mais uma vez estava na rua da amargura... Comecei a fazer uns biscates, nuns dias eu fazia bicos em lava-jatos de navios cargueiros, em outros eu me vestia de “Homem-Anúncio” de uma loja de sexy shop para tubarões, mas como eu estava sempre envolvido em confusões amorosas e barracos, lá estava eu novamente desempregado...

Eu não chegava a ser um mau caráter, mas dava meus trambiques aqui e ali... Nunca me dei bem por completo, e do mesmo jeito que o dinheiro vinha fácil, ele sumia mais facilmente ainda... Vivia na corda bamba... Sempre tendo grandes ideias, mas pequenos negócios (meio ilícitos)...

Um belo dia, quando eu estava na M... Com o dinheiro do aluguel atrasado, sem uma sardinha no congelador, sem luz no fim do túnel, visto que a energia elétrica tinha sido cortada por falta de pagamento, eu me lembrei do meu velho amigo de infância, o Chico... Voltei pra Patagônia e fui procurá-lo pra ver se conseguia arrumar alguma bufunfa, mas estava meio desesperançado, pois ele sempre foi tão azarento quanto eu... Mas, pra minha surpresa, o carinha estava montado na grana! Eu, que sempre achei que ele era um retardado, fiquei surpreso ao saber que ele tinha se casado com uma coroa rica... O cara estava outro! Parecia um playboy... Ele ficou muito feliz em me ver... Contei que estava na maior dificuldade, e ele se pôs a disposição para me ajudar... Ele estava com planos de se dedicar à política, e precisava de um “Marqueteiro”, uma espécie de Duda Mendonça “abaixo de zero”... E ele sabia que eu era esse talento que ele buscava, pois eu sempre fui um boa lábia, um falastrão e malandro o suficiente para saber vender bem qualquer produto... Animado com o elogio, e sabendo que ele tinha razão, pois eu sempre fui sensacional, e só não tive sorte porque fui perseguido e caçado por inimigos ocultos (meu psiquiatra denominou isso de comportamento paranóico), eu topei o desafio de vender a imagem do feioso e desajeitado Chico... E sabem de uma coisa, eu me encontrei realizado com esse tipo de trabalho... Ninguém sabe fazer um Marketing como eu, principalmente o meu marketing pessoal (eheheheh)... Chico foi eleito o vereador mais bem votado da história da Patagônia, e eu, com a grana obtida, comecei a investir em construtoras e ramo bancário, e como hobby, fundei a "Editora Pinguim Gelado LTDA" que nada mais é do que um grande outdoor para vender mais ainda, se é que isso é possível, a minha imagem carismática e "impoluta"...