Pinguim pintando o sete

Querendo ampliar e diversificar o foco das crônicas, eu e a Princesa decidimos por inserir temas variados. Com uma gama de possibilidades em mãos, sentamo-nos à mesa para decidir sobre qual tipo de assunto cada um de nós trataria... Eu, animado com a nova proposta, escolhi temas que dominava com certa desenvoltura, ou melhor, embromava com mais facilidade: Futebol, política, filmes pornôs e vídeo-game... Logicamente deixei a parte de moda, psicologia, romance e comportamento feminino para a Princesa, afinal, ela que é pertencente à realeza, tiraria de letra essas questões "mulherzinha"...

Sabem, eu não sei se a Princesa faz certas coisas premeditadamente pra me atormentar, me amofinar, mas o fato é que ela se recusou veementemente a aceitar a divisão de "pautas" feita por mim para serem tratadas por cada qual... Ela me fez a absurda proposta de um sorteio como forma de distribuir licitamente e sem favoritismo as matérias que iriam fazer parte dessa nova faceta...

Protestei, mas como ela tem um jeito "doce" de persuasão, eu tive que acabar cedendo ao tal sorteio... Eu, que nunca me dei bem nem em sorteio de loteria nem de quermesse, como vocês já podem imaginar, fui "agraciado" com a desditosa missão de dar dicas de maquiagem para as mulheres leitoras... A Princesa ficou com a incumbência de fazer a crítica dos jogos de futebol... Com isso, tive que devolver todo aquele "arsenal" que tinha alugado para a minha seríssima pesquisa, pois eu não iria bancar o altruísta de entregar o meu material para facilitar o trabalho dela...

Como eu sou presunçoso por natureza, não quis pedir arrego... Resolvi encarar a "pegadinha" que a vida me aplicou com a ajuda da Princesa... Para começo de conversa, eu deveria buscar a ajuda de um especialista sobre o assunto. Lembrei-me de um amigo de escola que a gente desconfiava que fosse homossexual, pois ele vivia dando dicas de penteados , pinturas, roupas e decoração para as fêmeas do bando... Aquela desconfiança se fez certeza quando ele resolveu assumir seu lado "afeminado" e virou transformista, cabeleireiro, carnavalesco, maquiador e babalorixá, trocando o seu nome verdadeiro pelo de "guerra": Pingay... Depois de descobrir onde ficava o salão do rapá, o estúdio de beleza "Coiffeur" Pingay (Eu mereço tamanha frescura?), eu me dirigi ao estabelecimento...

Assim que entrei, eu me assustei. Era um bando de mulheres falando, fofocando e rindo, e o meu conhecido amigo todo emperiquitado no meio daquela confusão, feito um pavão abrindo o rabo pra chamar mais atenção... Eu, como aspirante a repórter investigativo, levei meu bloquinho de anotações com o intuito de pegar todas as dicas e pistas que me fizessem desvendar o misterioso e secreto mundo dos tratamentos de beleza femininos... Eu tinha escolhido um péssimo dia pra fazer a entrevista: um final de semana... Dia em que as peruas capricham no visual para suas festas e baladas... Estava impossível de conversar com o Pingay... Ele não parava, mas na medida do possível, deu-me algumas dicas e alguns nomes de produtos essenciais para uma boa maquiagem. Enfim, fiz um cursinho a jato e saí do "Estúdio" me achando o cara!

Voltei para a "redação" com um bloquinho de anotações nas mãos, a soberba me contaminando a cabeça e uma sacola com os produtos que o meu amigo Pingay havia me dito que deveriam figurar nas minhas dicas de beleza... Que vergonha meus amigos, eu, um Pinguim MACHO, entrando numa farmácia para comprar: gloss, rímel, lápis de olho, corretivo, blush, batom, pó compacto, delineador e mais alguns apetrechos que não consegui decorar os nomes... Bom, matéria prima nas mãos e no coração a vontade de fazer o bem, só faltava a "cobaia", vítima voluntária... Quem seria essa pessoa? A Princesa, vocês poderiam supor, né? Mas ela não estava no castelo, tinha marcado hora no salão de beleza do Pingay... Sobrou então a dona Jurema, a minha faxineira... Com muito jeitinho e tato a convenci a aderir à causa pelo desenvolvimento e melhoramento da beleza feminina. Pra ganhar mais a simpatia de Dona Jurema, prometi citar o nome dela como a minha "colaboradora" abnegada...

Sentei dona Jurema em uma cadeira e resolvi fazer uma "esfoliação" antes da maquiagem... Fiz uma receita caseira que o Pingay me ensinou com óleo de amêndoa e açúcar, mas, meus amigos, eu resolvi substituir o açúcar por pó de café já usado... Eu caprichei na esfoliação, esfregava com vontade... A véia gritava de dor... Mas podem acreditar: ela, com o tratamento que eu fiz, ficará sem cravos por umas três encarnações...

Depois da esfoliação, eu fiz uma máscara facial nela com argila medicinal, e deixei-a ciente de que ela não deveria mexer um músculo da face sequer, coloquei o maior terror: se caso ela viesse a me desobedecer, só faltaria a cara dela cair... Daí, meus amigos, eu comecei a fazer palhaçada na frente da dona Jurema... Fazia caras e bocas e contava piadas. Era hilário de assistir às lágrimas descendo dos olhos de dona Jurema com o esforço que ela fazia para não rir...

Depois de dona Jurema estar de cara limpa, eu comecei a maquiagem efetivamente... Eu tinha anotado tudo o que o Pingay me havia dito, mas só esqueci de perguntar aonde se usava, no rosto, cada produto... A única coisa que eu conhecia era o batom, o resto, eram objetos femininos não identificados... Passei o batom, fiz uns tribais nas bochechas de dona Jurema com o tal lápis de sobrancelha (disse a ela que era a nova tendência por causa da novela com temática indiana). Passei rímel na testa, pó compacto nas orelhas, gloss nas pálpebras e nas olheiras e corretivo em todas as rugas que ela tinha no rosto...

Quando a minha Princesa chegou e se deparou com a dona Jurema completamente desfigurada, gritou pensando que tinha acontecido algum acidente sério com ela. Acalmei-a dizendo que apenas estava maquiando a dona Jurema com intuito de melhorar a postagem sobre dicas de beleza... Levei um sermão daqueles, porém fui liberado da incumbência de abordar temas femininos, por total inabilidade para tal e para a garantia do bem-estar das mulheres. Agora os temas de beleza estão a cargo do meu amigo Pingay, que foi convidado pela Princesa a participar com seus conhecimentos. E eu, por minha vez, estou tentando convencer a Princesa de ser o comentarista dos filmes pornográficos...