Coletivo de Pinguins é Cortiço?

O que é um cortiço? Se formos procurar pela definição dessa palavra em um dicionário, encontraremos o seguinte: "habitação coletiva das classes mais pobres".

Eu vou contar para vocês a história da minha vinda para a terra brasilis... Uma história verídica e comovente, onde eu, Pinguim Gelado, no sonho de conquistar riqueza e fama, saí da gélida Patagônia e vim tentar a sorte aqui nas eiras tupiniquins...

Logicamente, por ser um Pinguim numa terra de clima predominantemente tropical, eu imaginava que seria recebido como um extraterrestre ou um super star do naipe de Bono Vox ou Madonna. Quem sabe receberia honras de Estado como o presidente americano Barack Obama... Na realidade, por todo meu saber e desenvolvimento espiritual, eu já antegozava os carinhos que eu receberia como se o Brasil estivesse sendo abençoado com a vinda de um grande líder religioso do porte de Sua Santidade Dalai Lama ou o Papa Bento XVI; todavia não foi desse modo que as coisas se desenrolaram: Eu fiz uma viagem cansativa e estressante até aportar nas praias cariocas... Cheguei logo usando de todo o meu carisma e extroversão para ganhar a simpatia e hospitalidade do povo. Tentei manter logo de cara um diálogo com os nativos da localidade... Aproximei-me de uma mulher que usava umas peças que só tapavam mesmo o básico do básico! Ela, quando me viu, deu um grito e disse “Que lindinho! Um Pinguim! Aí que coisinha mais fofa!”. Começou a me abraçar e beijar... Eu pensei: “Sim, obrigado, meu Deus... Realmente eu sou tudo o que essa linda mulher falou, mas eu não esperava tanta receptividade e frenesi na minha chegada!”. Mas, como tudo o que é bom dura pouco, logo veio uma senhora gorda usando óculos fundo de garrafa e um maiô medonho com uma estampa que antes dela entrar nele deveria ter sido o rosto de uma mulher, mas depois que ela o vestiu, parecia com o assassino do filme ‘Pânico’, o "Mr. Ghostface", de tão deformada que ficou a imagem da figura feminina...

Bom, a mulher se disse bióloga e falou para a gata que eu era um Pinguim da espécie blá, blá, blá, blá, e que provavelmente tinha vindo parar naquela praia por causa do blá, blá, blá, blá, porque naquela época do ano era muito comum esse tipo de aparição no litoral brasileiro devido ao aquecimento global blá, blá, blá, blá...

Resumo da ópera: Eu fui arrancado dos braços da minha linda nativa de pouca roupa, carregado por dois marmanjos e colocado num tanque cheio de água... Nada de sardinhas e cervejas, nada de show de samba para Pinguim gringo ver, nada de tapete vermelho e distribuição de autógrafos e pose para fotos com fãs ensandecidos... No máximo colocaram a minha foto na capa do jornal com os dizeres: “Mais um Pinguim aparece nas praias cariocas”.

Chegando ao destino (infeliz) que estava reservado para mim, eu fui examinado, catalogado, fichado, identificado, alimentado com peixes de procedência duvidosa e sabor nauseante... Eu pensei, inocentemente e ainda um pouco iludido, que aquilo fazia parte de algum procedimento e cuidado para proteção dos cariocas por conta da ameaça de pandemia devido a tal gripe suína... Engano meu... Eu estava sendo tratado por aqueles psicopatas desalmados como um reles pinguim que se perdeu e veio parar em um lugar que não me era próprio... Ora, eu me senti insultado! Quis protestar, mas antes que eu manifestasse qualquer pio, eu fui colocado numa espécie de jaula com outros mais! Eram tantos que eu fiquei estupefato! Eu pensei: Nossa Senhora dos Pinguins enjaulados, o que é isso? Desativaram o Carandiru paulista e abriram uma franquia do presídio aqui na cidade do Rio de Janeiro, franquia esta destinada aos pinguins de todas as espécies e de todas as procedências?!

Subiu-me uma revolta e eu, me alçando numa pedra, pedi a atenção daquela massa de smoking: "O que vocês estão fazendo aqui?! Era para eu ser tratado como uma raridade, uma novidade, um rei! Agora eu estou nesse cortiço de Pinguins, nessa favela! O que deu na cabeça oca de vocês para se meterem a escolher o Rio de Janeiro como “point”? Vocês não têm amor à pátria de vocês, não? A Patagônia, a Antártica e outros lugares estão desprotegidos, à mercê de qualquer povo aventureiro, principalmente nossos inimigos, predadores naturais, que desejam dominar nossos lares! Vocês não são filhos da pátria, não? Eu tenho vergonha de vocês, eu tenho nojo de olhar no bico de criaturas tão mesquinhas e ambiciosas! Bem feito para vocês! Com a avidez de conseguirem encontrar o “Paraíso prometido”, vocês se “Fú”... Estão numa verdadeira, eu não diria cabeça de porco, como falam os cariocas, mas numa autêntica cabeça de Pinguim! Os ecologistas dizem que os pinguins estão sendo extintos, estão desaparecendo por causa do desequilíbrio ecológico. Mal sabem eles que vocês estão se mandando de seus habitats, não por causa das intempéries climáticas, mas por causa das bundas das brasileiras e, principalmente, das cariocas... Tem mais pinguins por metro quadrado aqui no Rio do que na própria Patagônia! Seus safados!"

Antes que eu terminasse meu eloquente discurso fui agarrado por um pinguim grandalhão que me pegando pelo pescoço perguntou: "E você, mané? O que está fazendo aqui?" Eu pensei em dizer que tinha vindo visitar uma tia avó que morava por aqui, mas nem deu tempo... Levei um piau que me deixou todo quebrado...

Depois desse sufoco todo, fomos devidamente deportados para a Patagônia... O sonho de conquistar o Brasil ficou adiado, mas não esquecido... Como disse Scarlett O’hara no Filme “E o vento Levou”: "Com Deus como testemunha, eu nunca mais vou passar fome na vida"...

Eu sei que é exagerado, mas eu gosto de um dramalhão e saídas ( no caso desovas, né?) carregadas de emoção... E para a gostosa nativa que me recepcionou tão euforicamente eu só tenho a dizer o seguinte: "Hasta la vista baby!!!"