And the Oscar goes to: Pinguim Gelado!!

Amigos, eu sou um artista de notória capacidade criativa e interpretativa... As minhas atuações são imbuídas de toda emoção e verdade que eu consiga dar ao texto. Eu, conforme o jargão, "visto o personagem", encarno o papel que me foi designado com tanta paixão que o convite para atuar fora do território nacional foi algo certo e inevitável...

Primeiro eu fiz alguns filmes latinos, depois a Europa se rendeu ao meu inegável talento cênico, pra logo em seguida Hollywood se interessar em ter em seu casting essa ave que tem uma presença marcante, carismática, além de uma inteligência invulgar que me permitem arriscar com tranquilidade em trabalhos como roteirista e diretor de cinema e teatro...

Por tantos méritos e qualidades artísticas, eu ganhei Kikito, Urso de Ouro, Globo de Ouro, Leão de Ouro, Palma de Ouro, e o tão almejado Oscar pela minha radiante atuação no filme em que eu fazia um vendedor de perucas cego que tinha o dom de escolher a peruca certa pela voz do cliente...

Uma interpretação que, segundo a revista Time "... mesclava a ternura de uma criatura que, por si só, já tem uma aura cativante, com a postura corporal e locomotora de um deficiente visual, trasportando-nos à realidade do personagem com cuidado e sensibilidade..." Nada entendi da crítica, mas somente sei que pelo meu colossal desempenho eu consegui faturar a famosa e desejada estatueta que agora está sendo usada como segurador de porta na minha casa... O que me importa é os milhões que eu tenho na minha rechonchuda conta bancária...

Entre uma gravação e outra de um filme de sucesso, eu abri uma brecha em minha apertada agenda para a cerimônia a qual fui convidado, em que eu deixaria a marca dos meus veneráveis pés pinguinlescos na calçada da fama hollywoodyana...

Cheguei num estilo esportivo despojado milionário... Óculos escuros da Oakley, calça Diesel, camisa Dolce Gabbana, e para dar uma força à terrinha, sandálias Havaianas... Desci de uma limusine daquelas que para você conversar com a pessoa que está sentada no banco de frente para você, só através de e-mail ou celular... Bebi champanhe francesa e comi caviar com torradas italianas no local que me servia de "camarim" até ser chamado ao grande momento aonde, com a ajuda da força da gravidade, eu deixaria impressas as plantas dos meus pés...

Alguns astros morreram de forma trágica, assassinados, agredidos, perseguidos por maníacos que se diziam fãs... John Lennon é um exemplo que ficou marcado na história...

Eu, celebridade mundialmente conhecida, também tinha medo das investidas desse tipo de louco... Naquelas semanas que antecederam a tal homenagem, tinha recebido vários telefonemas, e-mails e cartas anônimas de um cara que dizia que iria acabar com a minha raça, pois a namorada dele era apaixonada, fascinada e hipnotizada por essa minha figura magnética...

No começo eu fiquei até preocupado, mas, depois de comunicar as ameaças às autoridades responsáveis e contratar mais seguranças, eu estava mais tranquilo... A última mensagem dele dizia que o ataque vingativo se daria brevemente e que nada me protegeria da fúria de um corno, e por conta disso eu estava mais cercado de seguranças do que Whitney Houston no filme "O Guarda-Costas"... Eu só queria que o Kevin Costner desse lugar para a minha Princesa-Guerreira...

Enfim o momento é chegado... Todos a minha volta, fãs, policiais, paparazzos, flashs, seguranças e a minha Princesa... Quando eu coloquei meus pés na massa preparada para servir de fôrma, eu estranhei que tinha afundado mais do que o normal... Fiquei mais baixo que o Nelson Ned... A massa endureceu instantaneamente... Eu queria tirar meus pés, mas não tinha jeito! Estavam chumbados no cimento... A coisa ficou complicada... Eu comecei a entrar em desespero... Conheço pessoas que têm fobia de elevador, de lugares altos, de entrar no mar, mas eu tenho verdadeiro pavor de ficar preso com pessoas à minha volta... Eu comecei a arrancar minhas penas, dar chilique, piti... Eu pedia socorro, me debatia feito um peru a frente do seu trágico fim, na véspera do Natal... O público ria com a minha performance digna de um filme como a "Hora do pesadelo", pois eu sentia que "Freddy krueger" estava segurando meus pés, pronto para dar o golpe de misericórdia... No meio daquela balburdia e confusão, um homem com cara de poucos amigos trajando um macacão sujo de cimento, conseguiu furar o cerco dos seguranças e me disse, olhando bem para a minha cara: "Eu não disse que pegava você, Pinguim de merda?!" E virou as costas dando uma risada diabólica...

Para completar o quadro, começou a desabar uma chuva torrencial... Meus queridos amigos, não houve roupa de grife que conseguisse me manter na pose... Eu estava num estado lastimável, prato cheio para os fotógrafos sedentos por um vexame e furo de celebridades... Eu chorava feito criança, pedia a minha mãe...

Depois de muito trabalho, os bombeiros conseguiram me tirar daquela situação humilhante... Saí em pandarecos, arruinado, com minhas penas totalmente ensopadas...

Na manhã seguinte, em todos os jornais, estavam estampadas as minhas fotos e os seguintes dizeres: "O Grande astro Pinguim Ice, num lance sensacional de marketing dá nova forma ao modelo calçada da fama... Agora, nessa nova proposta, serão bonecos de cera enfiados até as canelas no cimento... Uma ideia de vanguarda...”

Eu, estupefato, liguei para o meu agente e disse: "Puta merda! Essa gente acredita em cada besteira, Bill! Eu estava tomando na cabeça e eles agora estão achando que eu estava fazendo cena... Eu adoro esse mundo!"