Misteriosos botões

 
Sempre corro a escrever sobre o que, de repente sacode meu coração. Estava andando... e, de repente pensei em botões e no quanto gosto deles, desde menininha.
Eles estão nos bolsos, nos chapéus, nas bolsas, nas saias, perto dos corações, nos punhos, até um banquinho coberto deles já vi. Já os vi em painéis, cadernos escolares, latinhas de recordações, cofrinhos, diários, agendas, casinhas de brinquedo,  caixas de segredos, mandalas na parede, roupinhas de bebês, enfim... os botões são especiais:
São coloridos, de diferentes formas geométricas, foscos, brilhantes, perolados, nus ou forrados, grandes, médios, pequenos, minúsculos, gigantes e atualmente são bichinhos, folhas, casinhas, bonecas e bolas, guarda-sol, enfim, adotaram sair da mesmice à qual os propuseram pertencer: redondos.
Eles teem furos, dois, quatro, um. Foi por aí que pensei: por eles passam a linha e a agulha, eles são pregados e ali ficam, até que quebrem, percam o brilho, sejam arrancados durante um momento de raiva ou paixão, ou um ferro de passar os danifiquem.
E continuei a divagar, os botões se parecem com as pessoas, as pessoas que amam, que se doam, que se deixam furar pela ingratidão, que permitem que a linha frágil da dúvida e da indiferença os ultrapassem.
Mas depois de fixados, ah...os botões abrem os braços, dois para abraçar e se deixam abraçar por quatro, eles ficam perto dos corações e se encontram sempre que as pessoas se amam,
Os botões entram em suas casas, mas saem, satisfeitos e em festa quando corpos se juntam despidos, porque se amam verdadeiramente (ou não).
Eles são substituídos quando as pessoas querem mudar de abraços, encontrar outros mais coloridos e enfeitados, às vezes são jogados no lixo, outras, como já disse, guardados juntos com recordações.
 
- Está falando sozinho?
- Não, estou conversando cá com os meus botões...
Ah! os botões, como eles são lindos!
 
IMAGEM:   por Yara Cilyn 
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Os botões da blusa que voce usava
E meio confusa desabotoava
Iam pouco a pouco me deixando ver
No meio de tudo
Um pouco de voce

[...]

Chovia lá fora
E a capa pendurada assistia a tudo
E não dizia nada
E aquela blusa que voce usava
Num canto qualquer
Tranquila esperava

Os Seus Botões (Roberto e Erasmo Carlos)