Pecados Capitais
(EC)

 
        Hoje pecarei. Conscientemente confesso meus pecados, sem culpa. Não vou tentar esconder minha avareza. Sou assim, não sei fazer diferente. Não sei dividir meus bens com ninguém. Eles são meus, e por eles dou a vida, faço guerra, enfrento leões. Minha riqueza ninguém toma. Nela invisto todas as ações, dela vêm meus dividendos. Por isso, não ousem destruir meu maior tesouro: minha família. 

        Se tentarem arrancar-me esta riqueza a ira me domina, viro fera e sou capaz de cometer loucuras. Sou impulsiva, e sou, também, explosiva – de pavio curto, como diria minha avó. Ainda bem que logo a razão assume seu posto e o que fica desta fúria é somente a ansiedade, aliada a uma enorme gula.

        Devoro tudo que aparece pela frente. Desde que não sejam doces. Doce mesmo é a paz que surge após a tempestade. A sensação de prazer, de serenidade. A certeza de saber que pertenço a um lugar, a uma família. Mesmo assim, é difícil controlar a inveja que sinto de quem sabe controlar seus impulsos, de quem não perde a calma, que é sempre centrada, e vive em harmonia permanente.

        Não sou assim. Mas, quase sempre sou uma pessoa “perto do normal”, tirando, claro, aquela velha e conhecida preguiça que sempre se apodera de mim. Contra ela nada posso fazer, acho que está em meu DNA. Gosto de deitar-me na rede, ler um bom livro e deixar a vida passar, calmamente.

     Acompanho o movimento dos ponteiros do tempo, e debruço-me na varanda dos sonhos, para apreciar a realidade que se constrói ao meu redor. Algumas vezes, permito-me ser apenas expectadora. Mas, gosto mesmo é de estar no palco, de escrever o enredo, viver os personagens, construir a minha história.

        Essa minha determinação, esta garra de viver, aprender e ser autenticamente feliz, aos desavisados, pode parecer soberba, não posso afirmar se eles estão, de todo, errados. Às vezes sou mesmo essa pessoa presunçosa, altiva e orgulhosa, mas procuro, sempre, ser justa e honesta. 

        Por ser assim, cheia de defeitos, os pecados encontram abrigo em meu peito. Algumas vezes, sem aviso, sou possuída pela luxúria. Talvez, pelo excesso de amor, de querer, pelo desejo incontrolável de fazer-me plena para o homem que amo. Se no amor e na guerra tudo é permitido, permito-me viver esta santa e pacífica guerra da paixão, com todas as fantasias imagináveis, mas, o bom senso prevalece e vivo apenas os doces suaves e publicáveis sonhos de amor.

        Pecadora – por ser imperfeita –, procuro me redimir, lutando, diariamente, contra a violência, a injustiça, a fome, a desigualdade e o preconceito – de qualquer natureza. Pois, se tenho em mim os sete pecados capitais, considero estes, que nominei, os verdadeiros pecados mortais.


Ângela M Rodrigues O P Gurgel
Enviado por Ângela M Rodrigues O P Gurgel em 22/05/2009
Código do texto: T1608290
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