AS VÁRIAS MANEIRAS DE AMAR
Foi no município de Jales, precisamente no Sítio Santa Rosa que tudo aconteceu.
Maria de Fátima era pequena...olhos vivos...cabelos dourados como o sol nas espigas de milho...sorriso faceiro...
Nos seus 7 anos de idade, ela gostava de ajudar o pai nos trabalhos do sítio, principalmente plantar mudas de café em pequeninos sacos plásticos cheios de terra.
Nessas horas Maria de Fátima se sentia adulta, se sentia importante e vaidosa em poder auxiliar o pai no trabalho diário.
Numa tarde de vento sibilante e perfume de flores silvestres no ar, a garotinha, sentada num tosco banquinho de madeira, afofava a terra gorda no saquinho plástico, fazia um furo com seu dedinho e nele colocava a mudinha de cafeeiro, verde escuro vivo, brilhante.
E durante esse trabalho, simples e necessário, Maria de Fátima observava o pai, quieto, fisionomia séria, senhor da luta diária com a terra para o sustento da casa e da família.
E aquele homem rude, esculpido na rocha do campo, solta sua voz imponente em dado momento:
-Maria de Fátima vem me dar um abraço! – era tom de ordem.
A garotinha olhou e em sua mente nasceu a dúvida:
-Abraço? Mas meu pai nunca foi disso...nunca abraçou a mim ou a meus irmãos...estranho...
Os braços do pai ergueram-se no ar e ficaram a espera da filha...era como se uma súplica estivesse a espera de resposta...
Maria de Fátima ergueu-se num repente e atirou-se nos braços fortes do pai, num abraço só seu, adormecido numa espera muda e agora ofertado num turbilhão de emoções e alegria.
O pai a afastou lentamente...
Ela emudeceu...
Um pedaço de madeira vibrou no ar acertando em cheio a cabeça peçonhenta da serpente que, enrodilhada no tosco banco onde a menina sentava, se preparava para o bote fatal.
Um gesto de amor...
São as várias maneiras de amar e de demonstrar o amor, basta apenas que consigamos ver além das aparências.