A MORADA DA ÚLTIMA ESPERANÇA

Um casarão todo pintado de verde...janelas grandes, brancas, com grades de ferro...grades também nos muros e altos portões.

Tocamos a campainha.

Uma senhora toda vestida de branco nos atende, séria, sem um sorriso...deve ser enfermeira, pelas roupas que veste.

Entramos.

Um pequeno jardim com algumas folhagens...flores mortas...algumas abelhas zunindo sobre minha cabeça...meio da tarde...sol.

Perguntamos pela pessoa a quem fomos visitar...

A enfermeira diz:

-Está ali em seu quarto. Não estão ouvindo a voz dela? Tagarela o dia todo! – e se aproximando de uma das janelas próximas do portão e do jardim, grita para dentro – Sua visita chegou!

De dentro se ouve uma voz de mulher:

-É a minha afilhada! Minha filhota de criação que veio me ver!

Seguimos a enfermeira e entramos por uma porta de ferro envidraçada.

Uma sala muito grande de ladrilhos vermelhos...fria...obscura. Uma mesa comprida de madeira...uma televisão num dos cantos, ligada quase sem som...cadeiras...de rodas...comuns...poltronas gastas...e aquelas velhinhas e velhinhos ali sentados.

Uma multidão de olhinhos nublados, descorados, quase sem vida nos observam...alguns aflitos, outros ansiosos...alguns curiosos e outros fitando o nada...

Duas pequenas mãos frias e enrugadas agarram a mão de minha esposa...as beija...minha esposa estremece de emoção...demora a soltar-se com todo carinho.

Corredores compridos...muitas janelas...sanitários...penumbra e aquele cheiro característico de desinfetantes...

Gritos de mulheres...

A pessoa que fomos visitar nos diz que lá quase todos estão loucos...Vieram loucos ou lá ficaram loucos?

É uma mulher ainda bonita...não sai do quarto – pequeno apartamento de quarto e banheiro – duas camas, duas cadeiras, um armário embutido...

Não é um lugar barato para se ficar...

Mas existem filhos – filhos??? – que preferem pagar do que cuidar. Mas fico sabendo que quase todos os velhinhos que ali são obrigados a se hospedarem, custeiam suas próprias despesas com renda de aposentaria e até mesmo outras.

Filhos e netos entram pelo pateo...os vejo da janela do quarto onde estamos. Vieram visitar o pai ou a mãe – aqueles que lhes deram vida, que nunca os hospedaram em orfanatos quando eram crianças, que por eles viveram, custearam estudo, alimentação, roupas, lazer...

Um empurra a cadeira de rodas da mãe...ela esbraveja...talvez se recorde, em sua mente confusa, de outros tempos...quando ela o empurrava em seu carrinho de madeira...

A senhora que estamos visitando fala bastante...conta histórias, fala dos familiares...da casa...enquanto tece nas mãos ágeis e de unhas cuidadas, sapatinhos de lã. Manda-os para a Pastoral da Saúde de Campinas e de Jundiaí.

Ela diz que seu filho queria lhe trazer uma TV...Não, ela não aceitou pois, caso aceitasse, ele poderia pensar que ela gosta de se hospedar neste local...e o sonho dela é voltar para sua casa, grande, bonita, construção antiga, forte, em Jundiaí.

Se ela soubesse que esse é apenas mais um sonho que jamais será realizado!

Ninguém pensa em tirá-la de lá...

E assim estão todos...velhinhos e velhinhas...ativos outrora, produtores e construtores de nossa pátria...ontem...e hoje, apenas humildes hóspedes da...

...Morada da última esperança!

Dia 22 de agosto - "Dia do Escritor Louveirense"

Ademir Tasso
Enviado por Ademir Tasso em 24/05/2009
Código do texto: T1611482
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