Ela Nunca Desistiu Dele

Quando eu conheci o Pedro eu tinha 32 anos e ele acabara de mudar-se para Louveira. Era um homem elegante, sempre com um sorriso estampado no rosto, mas com uma vida marcada pela dor. Aos poucos fomos nos conhecendo e nossas famílias tornaram-se íntimas. Ele tinha uma esposa maravilhosa e seus filhos eram as crianças mais felizes que já conheci.

Todos os dias juntávamos na calçada e conversávamos até altas horas. Como era bom estar ali, afinal ele tinha tanto para nos ensinar. Ouvíamos suas histórias atentamente e o meu desejo de ajudar era maior que a minha razão. Pedro era a melhor pessoa que eu já havia conhecido e estar com ele era estar com uma das pessoas mais sábias e experientes do mundo, apesar da sua pouca idade.

Não nos cansávamos de ouví-lo e eu muito curiosa queria saber os detalhes de sua tão vasta experiência. Pedro era alegre e muito amoroso com sua família e víamos nele a mudança que queríamos ver nos outros jovens.

A cada palavra sua, eu queria saber mais e mais e propunha a formarmos uma parceria para mudarmos outras histórias. A realidade do Pedro não é diferente de muitas. De família modesta, negro e morando na periferia, viu ali seus sonhos descerem pelo ralo. Discriminado, humilhado, sofrendo as amarguras de uma vida injusta, tentava sobreviver à margem da marginalidade, mas infelizmente não conseguiu.

Aos doze anos de idade, começando sua adolescência conheceu a droga e viu nela uma maneira para fazer parte desse mundo. Um caminho árduo e doloroso iria traçar nos próximos dez anos. Dia-a-dia foi conhecendo aquela que roubou a sua paz, sua saúde, sua dignidade, a sua vida. A amiga, droga, que o fazia viajar e esquecer todos os seus problemas e esquecer a vida miserável que vivia.

A droga, a cruel e solitária erva daninha que corria por seu sangue, fazendo-o sentir a pessoa mais importante do mundo. Aquela que fora apresentada a ele por sua namorada. Aquela erva, que por dez anos o escravizaria. Sim, a linda namorada, a amiga de todas as horas, a moça que ele confiava, foi com ela que ele aprendeu a “voar por entre as nuvens”. Ela o conduziu a sua pior viagem.

Escravo do vício e escravo de si mesmo. Por vezes pensara que iria morrer, mas não se arrependia, pois o que sentia era bom. Pobre, Pedro! O que ele não sabia era o caminho que trilharia para alimentar seu vício. O que ele também não sabia é que a sua mãe nunca desistira dele, e passava noites acordadas, orando e ajoelhada, suplicando a sua cura e a sua libertação.

Dona Rosana era o seu nome. Mulher de fibra, mulher corajosa. Mãe, era mãe. Suas lágrimas eram salgadas e não sentia mais alegria de viver, apenas lutava para ver o seu filho caçula longe do vício. Ouvia das pessoas que o Pedro estava perdido e que desistisse dele, mas não aceitava e clamava ao Senhor a sua dor de mãe.

Durante dez longos anos, dona Rosana orava, várias vezes por dia, pois acreditava que Deus a ouviria e salvaria seu filho. Amor incondicional. Meus olhos estão marejados de lágrimas e minhas mãos correm pelo teclado do meu computador, na ânsia de relatar esta história.

Para uma mãe perder um filho para o vício é sinônimo de incompetência, de pequenez. Mas, nisto, discordo, porque não criamos nossos filhos para as drogas, os educamos para serem felizes.

Pedro chegou ao fundo do poço. Aos 22 anos de idade conheceu alguém que estendeu a mão e se ofereceu para ajudá-lo. Não havia mais solução, estava tudo perdido. Quase morrera de overdose e não acreditava mais em nada, perdera a esperança de viver. Sozinho e na sarjeta decidiu acreditar naquele senhor que ali estava.

Nada seria fácil, afinal havia enveredado por um caminho sujo e escuro. Mas, as orações de sua mãe foram ouvidas e juntando os pedaços que sobrara de sua medíocre vida, decidiu aceitar a ajuda.

Amigos, o que posso contar-lhes agora, é que faz mais de 20 que ele foi liberto das drogas, foi salvo pelo Sangue Precioso de Jesus e vive uma viva de plenitude, pois acreditou que podia ser transformado. Detalhes do seu tratamento levarei comigo na mente, pois o que importa nesse momento é que existe um Deus que nos ama e nunca desiste de nós. O que importa é o que Deus pode fazer com um ninguém.

Minha vida mudou desde que conheci o Pedro, sua experiência de vida é maravilhosa e podemos sentir isso na sua vida. Hoje é um pai de família íntegro, reconstruiu a sua vida com a esposa que Deus preparou. Seus filhos são o maior presente que ele recebeu e sustenta a sua família trabalhando honestamente.

Pedro, nome fictício dado a esse que conheci nos caminhos por onde passei. Homem valoroso, que foi embora da nossa cidade, deixando o seu valioso testemunho. Não sei por anda, mas sei que por onde quer que vá, levará consigo a história de um Deus fiel e de uma mãe que nunca desistiu dele, mesmo no seu cansaço orou por ele durante dez anos. E Deus ouviu a sua oração, porque Ele nunca desiste de nós.

A vida é uma caixinha de surpresa
Enviado por A vida é uma caixinha de surpresa em 24/05/2009
Reeditado em 24/05/2009
Código do texto: T1611877