Texto para um dia que não a vi.

Texto para um dia que não a vi.

Alexandre Menezes

Disponibilidade naquele dia não faltava. Vários, dos muitos que poderiam, não optaram pela despedida. Até porque ela sempre destinou pouco do seu tempo para ser no mínimo agradável com as pessoas. Não amou. Não foi amiga. Mesmo bela, pouco foi desejada. Ruim, sei que assim a viam. O aviso chegou com certa antecedência e nenhum sentimento ou adjetivo especial, que é de costume, surgiu nessa hora. Entre cafés e encontros, apareciam justificativas que sequer seriam necessárias para as ausências. Eu, diferente dos outros, preferi refletir.

Na verdade, sabia mais sobre ela do que a maioria dos que a conheciam. Ainda recordo que, como tantos, ela pretendia ter filhos, sucesso profissional, milhões de amigos, uma boa família: ser feliz. Recordo também do nosso dia de princesa e príncipe do baile da primavera, da nossa longa e agradável conversa, do seu lindo sorriso e de um longo e demorado beijo, que inicialmente foi roubado, e de uma intensa noite. Coisas que desapareceram na sua memória.

Conseguiu sucesso profissional e, dos que pude identificar, foi o único realizado dos seus sonhos . Não sei por que se esqueceu do amor, dos filhos e dos desejos suspirados antes de sumir e nunca mais me atender ou ao menos responder alguma das cartas e indagações. Creio que não me julgou para ela a pessoa ideal. Típico consolo. Desapareceu.

Só nos reencontraríamos para fingir não lembrar de mim ou de nada. Talvez não lembrasse mesmo. Eu, na realidade, não encontrava naquele corpo a doce e tímida garota que conheci e que várias vezes perguntou se por sua falta choraria. Não era a moça do baile e nem dos meus sonhos.

Foram lágrimas pela mãe que não conseguiu ser. Lágrimas pelo amor que não quis viver. Lágrimas pelas noites e desejos não vividos. Lágrimas das amizades eternas. Lágrimas de saudade. Lágrimas e mais lágrimas. Quis chorar a falta como na antiga primavera mas infelizmente não deu. Os poucos conhecidos que ali estavam nunca souberam da nossa história, porém, pelas lágrimas e choro, muitos se emocionaram e desejaram tê-la conhecido de outra maneira ao presenciarem a emocionante despedida. Pensaram existir uma outra pessoa. Não levei flores, apenas guardarei comigo outro segredo: as carpideiras para as lágrimas que prometi e que ficaram no passado.