ME TIREM O TUBO!

Parem o mundo – com freios ABS, por favor – que eu quero descer. Lascou, danou-se, estamos perdidos, galera. Acho que não dá nem pra esperar parar, temos que pular pra fora com o mundo em movimento mesmo. Ou melhor, estamos no mundo errado, aqui é o Mundo Bizarro (lembram dos Super-Amigos?). É isso, certeza, entramos numa fenda espacial e aqui não é mais aqui, é lá. Entendeu? Eu também não, mas pega essa notícia: Câmara Municipal de Redenção (PA) vira palco de boate. Como dizia Jô Soares, me tirem o tuuuuuuuuuuuuubo!

Vou explicar. Segundo o site do Diário do Pará, no último dia 19 de abril seriam realizadas “palestras para profissionais da beleza, com dicas de maquiagem e penteados”. Tudo muito bacana. Um espaço público servindo à comunidade. Profissionais da beleza se reciclando, a roda da economia girando, alegria, alegria, alegria! Contudo, é Brasil, meu povo, e quando as palestras se encerraram chegou a hora da nossa gente bronzeada mostrar seu valor e foi todo mundo pra farra.

As participantes do curso (isso mesmo, foi a mulherada; ou vocês acharam que os nobres vereadores – em sua maioria homens – seriam capazes de armar uma putaria dessas?) beberam e requebraram com os “dançarinos” sem pudor. Virou um “Clube das Mulheres”, uhu! Para ser bem sincero, espero que a idéia se espalhe. Já pensou, meninas? Vocês aprendem os truques da beleza e depois testam se funciona in loco – e tudo respaldado pelo poder público. Pelo menos a gente legaliza logo o bacanal, que neste país é quase que um produto cultural.

Aproveito para pedir o mesmo espaço para que nós, homens, que neste caso específico fomos apenas usados, possamos promover também as nossas inocentes festinhas, regadas a pole dance, nas câmaras municipais por aí afora. Afinal de contas, vivemos num mundo de direitos iguais. Estou planejando, inclusive, organizar um evento em praça pública para queimarmos as nossas cuecas. Estamos perdendo terreno, rapaziada, abaixo à repressão. Liberdade já, seja para o parque de diversões ou nas câmaras municipais.

Alguém pode dizer: mas câmaras e parlamentos já estão forrados de filhos-das-putas mesmo, nada mais justo. Pois então, melhor agora que deixamos de ser hipócritas. E tudo isso graças a essas corajosas mulheres paraenses – e brasileiras – que ostentam o pendão da transparência. Por isso mesmo peço que o troço se espalhe. Igualdade e liberdade para todos os estados, homens e mulheres, câmaras e parlamentos, zonas eleitorais e zonas mesmo deste Brasil varonil e, mais que nunca, mulheril. Vamos nos unir e assumir que transformamos tudo na mesma coisa. Sério, fiquei até emocionado agora.

Portanto, parafraseando a letra da música "Façamos" (Chico Buarque e Elza Soares), simplesmente façamos, seja nas câmaras municipais, nas zonas, em currais eleitorais, no mar, nos cipós, nos bambus, no sal, em geral, sem calcinhas e calções, ao léu, sob o céu, lambuzando-se no mel, façamos, vamos amar.