EDUCA – A – DOR

Laura Leal

A utilização de alguns hífens na palavra “educador” trará uma nova roupagem, não só à palavra, mas, principalmente à missão de EDUCA – A – DOR!

Educar “a dor” - nessa sociedade, na qual os valores supremos estão perdidos pela falta de limites e pela prevalência de um verdadeiro exército de “deficientes afetivos”, é ter a possibilidade de alunos mais motivados, com aprendizagens significativas, e com propósitos disciplinares plenamente estabelecidos e exercitados.

Eduardo Galeano, pensador uruguaio, diz que no mundo atual não é preciso olhar pelo espelho mágico da história de “Alice no País das Maravilhas”, para ver tudo ao contrário, é suficiente olhar para o mundo da janela de sua casa.

Estamos assistindo em nossas escolas crianças e adolescentes que além de terem, em sua grande maioria, pais ausentes sofrem uma influência nem sempre benéfica de uma mídia que lhes chega pelas várias tecnologias de informação sem nenhuma triagem ou suporte de um adulto que os ajude a separar o “joio do trigo”.

Estamos recebendo em nossas escolas alunos que morrem por um gesto de amor! E por não saberem como verbalizar esse sentimento “resolvem”, se tornarem “visíveis”, pela falta de foco na tarefa escolar e nas normas de convívio social. Seus ícones são um aparelho celular, um MP3, o MSN e o Orkut. Seus ídolos são pessoas que fazem tratamento para tornar a pele branca, numa vã tentativa de negar sua origem; ou fazem das drogas e de uma vida afetiva promíscua suas bandeiras de luta. Mas não se enganem: nossos adolescentes experimentam uma grande dor pelo vazio que essa realidade lhes impõem.

Por tudo isso é que é preciso ser um EDUCA – A – DOR. Se o vínculo afetivo na sala de aula não estiver minimamente garantido, é muito difícil que o trabalho flua.

No contato com os alunos, portanto, para que haja efetivo diálogo, o professor precisa saber ouvir, deixar o aluno se colocar, deixar o aluno falar! Só o fato de poder falar, de compartilhar, já favorece muito.

No entanto, não dá para se resolver tudo no coletivo. Há que se estar atento aos alunos mais frágeis, que escapam à coletividade – ou que resistem a ela -, e saber desenvolver uma ação paralela de orientação, também sem discursos, mas que, sucintamente, dê ao aluno condições de compreender as origens de seu comportamento e lhe permita a superação das suas contradições.

Muitas vezes, há necessidade do professor ter um contato individual com o aluno, de forma a poder criar maior intimidade na relação. Não se trata de ser “psicólogo”, mas de ser um professor comprometido, buscando interações e atividades que possam ser libertadoras. O educador deve revelar seu interesse, sua preocupação; o jovem pode não se abrir num primeiro momento, mas já é importante saber que tem alguém preocupado com ele. Como diz Wallon, “é despertando no aluno um interesse novo pelas novas situações em que ela se encontra que é possível ressuscitar o seu poder de adaptação”.

O diálogo, deve ser desarmado: não acusatório, não moralista, não ameaçador; deve ser investigativo, estar atento ao outro, tentar compreendê-lo.

Alguns podem pensar que se transformar em um EDUCA- A-DOR é uma utopia. Que seja! A utopia está mesmo no horizonte! Se eu me aproximar dois passos, ela se afastará dois passos. Quando se caminha dez passos o horizonte corre dez passos. Por mais que se caminhe, jamais o alcançarei. Então? Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.

Laura Leal
Enviado por Laura Leal em 27/05/2009
Reeditado em 28/05/2009
Código do texto: T1617342