Consciência...de que cor?

Consciência de que cor?

Outro dia conversando com um amigo sobre trabalho, prazos de entrega...etc, assuntos de quem ganha o próprio sustento e se preocupa com tempo desperdiçado em bobagens e demagogia, típicas de um país de quinta, pouco democrático e populista, como por exemplo (só pra citar uma), o dia da consciência negra.

Na verdade, sou mesmo um pouco desligada, ainda mais para assuntos pífios como esse: no dia 20 de novembro comemora-se o dia da consciência negra!!!!????

Sabia da data, mas como na minha cidade não é feriado, fiquei admirada em saber, que numa metrópole como São Paulo e em outras grandes cidades, nesse dia, não se trabalha!!! Credo...

Muitas questões, vem à minha mente: que dia é esse? Qual sua finalidade? O que é consciência negra, ou branca, ou amarela, roxa, azul....? O que se faz nesse dia? Será um dia marcado pela reflexão? E se for, qual será o tema da mesma? Educação, cidadania, música, melhores salários, saúde??? E quem serão os que nesse dia estarão mais conscientes de alguma coisa?

Desinformada que sou, fui pesquisar o motivo dessa data e descobri que foi uma homenagem ao dia da morte de Zumbi dos Palmares.

Com todo o respeito ao líder que lutou pela libertação dos escravos, mas por uma questão de justiça, por que não é feriado o dia da Abolição – 13 de maio? E o dia que morreu nossa corajosa Princesa Isabel, que assinou a bendita lei??? Claro que sabemos hoje que a sofreu uma enorme pressão, para que fizesse isso. Mas qual mulher que até hoje não sofreu pressão?

Será que ela não sente-se injustiçada, lá no céu e não causa conflitos com Zumbi, que nessas alturas, além de ser homem, possui mais uma razão para subestimar o poder feminino... Tipo: eu tenho um feriado, Você não! E já imaginaram a dificuldade de Deus e seus assessores para mediar esse conflito?

Por uma questão de igualdade de direitos (um dos princípios da democracia) e por uma questão dos direitos da mulher, acho que: ou deve-se extinguir esse feriado do (já tão carregado) calendário nacional, ou, na pior das hipóteses, acrescentar mais um dia de feriado, que seria no dia da morte da nossa ilustre princesa (confesso que essa pesquisa eu não fiz).

Todo esse meu desabafo, é simplesmente porque não posso acreditar que a produção, o comercio, as escolas etc...etc...parem num meio de semana, para comemorar algo que na verdade nem sabem bem qual a razão.

Concordo com a homenagem, concordo com o motivo e, principalmente, concordo com a consciência. Mas não com concordo com o feriado.

Não consigo perceber a relação entre ter consciência e não trabalhar. Não deveria ser o contrário?

Apesar de distraída, tenho consciência das dificuldades dos negros não só aqui, mas em outros lugares do mundo, assim como das dificuldades de outros povos em geral, das minorias em geral, das crianças desamparadas, dos velhinhos abandonados, dos doentes....e vai uma lista interminável, e não existe um dia de consciência que seja um feriado para cada um deles.

Quem não me conhece e tiver a infelicidade de ler essa maluquice reflexiva, vai pensar: essa pessoa deve ser loira e ter olhos claros...

Adivinhem: acertou pela metade. Sou loira falsa. Meu cabelo é preto, mas os olhos são claros. Claro!!! Na mosca. É racista.

Antes que comecem a me processar, já vou dizendo, que sou livre por natureza, pra viver, pra pensar, pra agir, pra escrever e, portanto, sem qualquer tipo de preconceito, de qualquer espécie.

Seguindo essa linha de pensamento, acho que deveríamos ter um dia da consciência de ser brasileiro. E nesse dia procurar trabalhar mais, cumprir mais os prazos. Nesse dia os juízes deveriam despachar mais processos e acelerar um pouco nossa justiça tão injusta.

Os postos de saúde deveriam procurar atender todos os que esperam meses por um exame, uma consulta. As pessoas poderiam se preocupar mais com seu entorno, com seu meio ambiente, com seu vizinho, com o sofrimento do outro e não reservar essa ação apenas para o dia do Natal. Os motoristas poderiam ser mais gentis, os maridos poderiam ser mais atenciosos, as esposas menos neuróticas, os filhos mais amorosos e principalmente nós brasileiros, mais conscientes do que se pode fazer pra melhorar um pouco a vida desse país, vilipendiado, humilhado e que fez da libertação dos escravos (ao contrário de outros países) uma festa com pétalas de rosas nas ruas.

Penso que o passado serve apenas, para nos direcionar um futuro e não para que nos apeguemos a ele, como vítimas irrecuperáveis, procurando sempre em cada fracasso, uma culpa atávica, oriunda de fantasmas do passado, que em nada podem contribuir para o presente.

Será que consciência existe sem ação, sem conhecimento, sem coragem?

Sissina.

Sissina Aurea
Enviado por Sissina Aurea em 28/05/2009
Código do texto: T1619596
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