Já que você insiste...

Agora que a menina estava alcançando a idade dos namoros, beijos e coisas afins, a mãe, ao dirigir até o supermercado, resolve perguntar à filha:

- E aí filhinha, já está com namoradinho?

- Eu? - arregalou os olhos - Capaz mãe, ainda não estou na idade - disse a menina olhando para as árvores que passavam pelo lado de fora do carro.

- Por que o espanto filha? Eu na sua idade já namorava. Minha mãe era a única que sabia. Eu e ela trocavámos segredinhos.

- Já que você insiste. Não existe mais esse negócio de namoro, mãe. A gente fica.

- Fica? Como assim.

- Ué, a gente fica. Conhece um garoto e fica.

- Essa geração está tão rápida nesse negócio. E você, já ficou com quem?

Mais uma olhada para fora da janela. Essa era daquelas perguntas que a mãe já sabia a resposta. A filha andava sempre de conversinhas pelo celular, troca de mensagens e encontro às escondidas. A mãe coruja sabia que o correspondente era o filho do dono do armazém da esquina. Rapaz bom até, mesma idade que a filha, 14 anos. Claro que estava cedo demais para namorarem e a mãe queria ter uma relação aberta com a filha antes que o pior acontecesse.

- Já que você insisite. Conhece o Marquinhos da venda da esquina?

- Claro, bom rapaz ele. Esses dias estava conversando com sua mãe e ela me disse que é um menino de ouro.

- Então,- parecia que atranquilidade soava na voz da garota - nós estamos ficando.

- Que bunitinho Graziela. Gosto dele, ele é muito educado. Faz tempo?

Outra pergunta retórica.

- Algumas semanas.

- Que bom! Mas juízo heim filha. Sabia que poderíamos ter um papo bacana. O primeiro namorado a gente nunca esquece.

- Ficante mãe, ficante.

- Tudo bem, o primeiro ficante a gente nunca esquece.

Agora quem falava tranquila era a mãe. Finalmente teve uma conversa digna de ser chamada "de mãe pra filha".

Quando chegaram ao mercado a filha disse:

- Mãe, você conhece o Altair?

- Altair? Não, por quê?

- Então mãe!

- Então o quê?

- Sabe, o papo de segredinhos. Bem, o Marquinhos não é o primeiro ficante.

- Não!? Como assim?

- Bem, já que você insiste, ele é o, deixa eu contar... Teve o André, o Fabricio, o Carlinhos, o Edu, o Pedrinho e o amigo do Pedrinho, o João, teve também o Ricardo, o André, acho que esse eu já falei, ah o Maicon, o Julio, o Cristian...

Depois dessa, a mãe dela nunca mais tentou levar um papo de mãe para filha!

Eduardo Costta
Enviado por Eduardo Costta em 28/05/2009
Código do texto: T1619911
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