O AVARENTO E O SEU OBJETO DE IDOLATRIA...

Esta semana eu estava conversando com algumas pessoas de minha relação de amizades, sem que alguns dos assuntos falados, ali, fossem de nenhuma importância para o grupo. Eram apenas trivialidades. Porém, no meio da conversa, eis que surge um assunto relacionado a dinheiro e a quem sempre depende dele: o homem.

Conversa vai, conversa vem, uma jovem senhora, que estava no grupo, começa a chorar. Ficamos, todos, sem entender nada, esperando apenas que ela se pronunciasse e nos esclarecesse o motivo daquele choro. Não demoramos muito para saber a resposta. Ela, com os olhos marejados, cabeça baixa – como se estivesse com vergonha – expôs sua situação:

- Vejam a minha situação: sou filha de um próspero comerciante que, ao longo dos anos, conseguiu acumular uma razoável fortuna em bens e, por conta disso, vive sem passar atropelo ou “necessidade” – de ordem econômica –, com a minha mãe. Inclusive, não bebe, não fuma, não joga e vive de casa para o seu comércio. A única coisa que lhe faz sair de casa, fora o trabalho, é a igreja. A ela ele vai toda vez que for possível.

Confesso que, eu, particularmente, não entendi. Uma pessoa chorando porque o pai era um homem abastado e, me parecia ver, um bom homem para sua família!

Porém, como todo começo bom nem sempre termina assim, ela, percebendo que nós não estávamos entendendo nada, resolveu elucidar a sua mágoa em forma de lágrimas.

- O problema é que ele, durante todos esses anos, só fez acumular bens e se esqueceu que bens são para usufruí-los, compartilhá-los. Os dele não. Tornou-se, com o passar dos tempos, uma pessoa avarenta, fechada em si, somente preocupada com o seu rico dinheirinho e, principalmente, com medo de perdê-lo.

Um dos sete pecados capitais, pensei. Talvez o pior deles, pois quem era avarento o era somente por dinheiro – o objeto da avareza. São Paulo chegou a dizer que “a avareza é idolatria por uma certa semelhança com a servidão, pois tanto o avaro como o idólatra servem mais a coisas criadas do que ao criador”. Mas, querendo saber se o grau de avareza do distinto pai da queixosa senhora era potencialmente assustador, perguntei-lhe:

- Fulana (não declino o nome dela por razões óbvias), mas economizar faz parte do contexto atual, você sabe, a crise mundial elevando o custo de vida...

- Mas deixar de comer para economizar? – Questionou ela. Vejam vocês: se ele almoça não janta, se a minha mãe gasta um real com os netos, ele reclama; em todos esses anos nunca tirou férias e/ou saiu para passear, pois segundo diz, não pode gastar um centavo. Se a minha mãe compra algum móvel ou eletrodoméstico, ele passa vários dias sem falar com ela. Seus bens, na verdade, não servem nem para ele. E o pior: por ter pena de gastar um centavo qualquer com a manutenção do que possui, seus bens duradouros estão, aos poucos, virando pó!

Difícil, refleti. Lucas, no Evangelho (12:15), disse: “tende cuidado e guardai-vos de toda e qualquer avareza; porque a vida de um homem não consiste na abundância dos bens que ele possui”.

- O pior, continuou ela, é que nem com ele se pode gastar. Outro dia ele adoeceu e, diante do problema, a solução era uma cirurgia. Quando ele soube que teria de desembolsar certa quantia, cancelou-a. Prefere arriscar a morte a gastar um centavo, que seja, do que possui. Talvez ele pense que, se morrer, ele leva com ele, o que conseguiu aqui na terra!

Realmente, quando se chega nesse estágio, segundo já dizia Santo Tomás de Aquino, “o avarento não é útil para os outros nem para si mesmo, pois não se atreve a gastar nem sequer consigo mesmo”.

Ficamos todos calados. O silêncio que reinava dava a dimensão das reflexões que todos estávamos fazendo. Comigo mesmo, meditei:

- De que adianta, para o avarento, abastecer seus cofres com tanto dinheiro se ele não serve nem para fazê-lo curar-se de suas mazelas e, com isso, ganhar mais dinheiro?

- Para que serve a riqueza se a única coisa que o avaro faz é servir à riqueza?

No final de nossa reunião, já na saída, me veio na lembrança um caso que aconteceu no meu bairro: um comerciante avarento – que passou a vida inteira deixando sua família passar privações dos bens necessários – veio a falecer e quando a viúva estava se desfazendo das quinquilharias, que ele ajuntou durante a sua vida, percebeu que tinha um baú, trancado a sete chaves que, ao ser aberto, continha um tesouro em dinheiro e moedas. Porém, ao chamar seus filhos – todos visivelmente necessitados -, se deram conta de que nada daquilo tinha valor: o dinheiro e as moedas tinham perdido os seus valores numéricos, devido ao tempo e à reforma do sistema monetário.


 



Obs. Imagem da internet
Raimundo Antonio de Souza Lopes
Enviado por Raimundo Antonio de Souza Lopes em 31/05/2009
Reeditado em 06/12/2011
Código do texto: T1624521
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