O rapaz que morreu

O rapaz que morreu tinha a minha idade, vinte e dois anos. Isso não é idade para ninguém morrer. Aos vinte e dois a gente tem oportunidade de fazer o que der na telha sem dar muitas explicações. A gente não é tão novo que não possa tirar carteira e não é tão velho para ter responsabilidades em demasia. A gente já perdeu boa dose da insegurança da adolescência e pode dar em cima de qualquer garota que nos chamar a atenção. Pelo menos o fora parece ser menor aos vinte e dois.

Contudo, o rapaz que morreu tinha vinte e dois anos e foi privado de tanta coisa. Tanta coisa que a gente ainda não sabe aos vinte e dois. Eram quatro da manhã, três rapazes conversavam em uma esquina de São Paulo. Imagino os três conversando sobre garotas, música, filmes. Enfim, coisas que a gente conversa às quatro da manhã numa esquina qualquer. Coisas que a gente conversa quando se é tão jovem assim. O mais doloroso seria pensar que conversavam sobre o futuro. Entretanto, talvez conversassem sobre o futuro quando um homem chegou perguntando-lhes quem lhe havia danificado o carro.

Os rapazes não souberam responder.

O homem deu a partida, deu a volta no quarteirão e atingiu os três jovens. O rapaz que morreu tinha vinte e dois anos. A namorada dele estava grávida, o rapaz iria ser pai próximo mês. “Ele sempre foi muito novo para fazer tudo. Vinte e dois anos”, comentou sua tia.

Façamos um minuto de silêncio pelo rapaz que morreu. Pela sua família que hoje chora. Pelo seu filhinho que ainda nem nasceu e já foi vítima da violência. Rafael, descanse em paz.