A montanha

Aos 11 anos, estava aborrecido com o ambiente à minha volta. Todos recusavam o meu modo livre de encarar a vida. E, antes que me enquadrassem nos seus conceitos, decidi enveredar pelo caminho da montanha. Numa subida que traz, a todo ser humano, uma visão privilegiada do nosso mundo.

Escalei, com sacrifício, por 12 anos. Nesse período, percebi que essa aventura não tem fim. Haverá sempre o que descobrir e ser descoberto a respeito de si mesmo. Mas isso não me fez, nunca, melhor do que aqueles que permaneceram no pé da montanha. A minha missão é de jogar uma corda para que esses também subam.

Dizer a todos que tal caminhada é possível, embora insistam em me rotular naqueles moldes antigos. Sou o resultado de muitos anos de conversa, de leitura e de vivência.

Alguns acham que isso não pode ser possível. Chamam-me de tudo e blasfemam sobre o que sou. Eles puxam a minha corda pra baixo numa tentativa desenfreada de me derrubar. Então, reuno o que aprendi em mensagens heurísticas que me protegeram por muitos momentos graves.

Houve um tempo em que respondia: apenas “soul”. Todos viviam um frenesi de identidade lá embaixo. Mas não subiram a Montanha.

No ano seguinte, queriam reunir as diferenças, sem entenderem a si mesmos. Disse-lhes: “O uno não é individual.” Mas não quiseram subir a Montanha.

Alguns decidiram largar a ponta da corda e se afastar de mim. Os meus pés sangravam, quando havia alcançado o topo. No entanto, sabia que deveria descer para escalar um monte ainda maior. Ouvi dizer, certa vez, que só os buscadores, mais persistentes, conseguem ir lá.

Sozinho, senti uma tristeza infundada no caminho de volta. Estava muito diferente de todos que ficaram no pé. Entretanto, os que aceitaram a corda continuam os mesmos pra mim. Sofro por não conseguir conversar com os outros. Aqueles que rejeitaram o meu apoio e abraçaram simples conceitos.

Hoje, passeio pelo pé da Montanha com saudade do topo. Lá, encontrei um Senhor humilde que reza, dia após dia, para que a humanidade se “encontre”. Ele me disse algo interessante que preciso compartilhar com o mundo:—Existem muitos conceitos falsos nessa vida!

Isso me intrigou muito. Existiriam conceitos verdadeiros? Perguntei ao velhinho. E, com a sua simplicidade, deu-me uma resposta que alcançaria todo o Universo:

—Tudo pode ser verdade, se for feito com o espírito! Basta que os homens reconheçam o seu próprio.

Assim, o Senhor me nomeou como Vate para que escrevesse o que o meu coração confuso queria dizer. Acontecimento que me mostrou o quanto somos “Nada” diante da vida. Devemos entender a nossa finitude à nossa maneira.

E só, por caminhos tortuosos, conseguimos isso. Nunca teremos respostas para o que vemos e sentimos. Mas podemos ver e sentir o que somos. Numa eterna caminhada em rumo à montes espirituais. Afinal, preciso continuá-la no monte seguinte, porque mais um ano começa e recebi uma nova corda, amarrada por todos que amo.

Rômulo Souza
Enviado por Rômulo Souza em 31/05/2009
Reeditado em 31/05/2009
Código do texto: T1625227
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