M. H. Assassina

M. H. ASSASSINA

-Minha mãe, você deixa eu criar um ramster aqui em casa? Ele é tão bonitinho, pequenininho e não faz nada com ninguém. Ele é bonzinho, sabe?

Com toda essa meiguice, a mãe não teve outra alternativa.

-Deixo, meu filho. E quem vai lhe dar esse bichinho?

-É meu colega, porque a mãe dele não quer o animalzinho em casa. Ela não gosta de bichos.

E o ramster chegou à casa do menino. Era uma delícia brincar com ele. De início todos se espantaram, porque parecia um ratinho, desses que aparecem nas casas, em busca de alimentos. Mas esse era diferente. Tinha nome sofisticado e não chegara pelos fundos da casa como aqueles “pé-duro”. Era criado em gaiola. Quem sabe, um dia, poderia alegrar a casa com um canto!... Dizia a mãe só para brincar com o filho.

-Não, minha mãe, ele não sabe cantar, quem canta é passarinho!...

-Quem fica na gaiola é passarinho, meu filho.

-É para ele não fugir, minha mãe. Já estou gostando tanto desse bichinho, que não sei viver sem ele!

A mãe olhou-o com ternura e disse:

-Então cuide bem dele.

Um dia, como toda criança, teve pena do bichinho e deixou-o solto pela casa. O ramster corria, escondia debaixo das camas, atravessava a sala e se acomodava sob as cadeiras. Era uma alegria! Todos queriam pegá-lo, mas não conseguiam. Essa raça de animal é muito veloz. Corre por todos os cantos e é difícil achá-lo no meio de móveis e tantos cacarecos que uma casa tem.

E o ramster de Fafá, era esse o nome da criança, sumiu. Procura daqui, procura dali, nada. O menino vai ao quintal, entra nos quartos, olha debaixo das camas, vai à sala, revira o tapete e não encontra seu bichinho.

Quando todos estão encabulados e tristes com o sumiço do animalzinho, ouvem-se gritos da casa da frente:

-Mata, mata! Correu!

-Passou por aqui!

-Está aquiiii!

Foi com esse alvoroço todo que Fafá correu para a porta da rua e qual não foi a sua tristeza ao ver M. H. pedir à empregada para tirar aquele rato nojento dali e mata-lo. Não houve tempo para a criança dizer que aquele bichinho não era um rato, mas seu ramster, um companheiro legal.

A mãe, paralisada com a cena e vendo a tristeza do filho, aproximou-se da casa da vizinha e deixou escapar:

-Você matou o ramster do meu filho!

E ela, desapontada, disse que pensou ser um rato, desses que chegam pelo esgoto ou do lixo, que vem da rua... Por isso, mandou a empregada meter-lhe o cabo da vassoura na cabeça.

O corpinho do ramster jazia no pralelepípedo frio da rua, coberto pelas lágrimas sentidas do menino.

Foi um vazio na vida de Fafá. Chorou quase toda a noite. Era um choro doído, sufocado... E a sua resposta chegou logo cedo, pela manhã, através de um “caco” de telha, onde ele, ainda principiante na escrita, gravou com canetinha hidrocor verde, as palavras: “M. H. Assassina”.

Com lágrimas a escorrer-lhe pela face, foi à porta da rua e jogou o caquinho de telha na casa da autora do assassinato. Aquela inscrição, feita com dor e saudade, representou o desabafo de uma criança que não entendia o porquê da atitude da vizinha que ele considerava agora uma assassina.

Em casa, o seu olhar para a gaiola vazia falava do seu coração vazio. Mas estava vingado: sua mensagem havia chegado até a casa de M. H..