Os Sonhos Mais Gostosos

Mais um dia de trabalho chegava ao fim. Era hora de ir pra casa. Deixou o prédio onde passava oito longas horas diárias, cinco dias por semana, e seguiu mais uma vez pelo caminho de sempre até o metrô.

Caminhava com aquele sorriso perene no rosto. Nos últimos dias tudo estava diferente, se sentia completa e feliz. Trabalhava com o que gostava? Talvez. Mas isso não importava agora. Por enquanto tinha o que precisava: dinheiro pras contas do mês e para uns luxos também. Ah, e uma chama acesa no coração, um afago.

Antes de chegar no metrô, parou numa confeitaria para comprar um sonho. “Um não, dois!” foi o que disse para a balconista. E saiu feliz, com seus dois sonhos embalados pra viagem, cuidadosamente levados em suas mãos.

Pensava nele, e só nele, o dia todo. Ao acordar, durante o trabalho, na pausa pro café, em casa, ao ir dormir e durante todos os momentos intermediários entre tudo o que fazia. Entrou na estação de metrô. Os olhares que trocavam, os bilhetes, os beijinhos e os carinhos, tanta coisa boa. Havia encontrado o cara certo. Que sorte! O trem já estava parado na estação, acelerou o passo. Tudo o que queria era chegar em casa e encontrá-lo.

Entrou no trem e sentou-se. Quem diria, ela, que por tanto tempo fugiu de compromisso, se via numa situação completamente diferente. Namoro sério não parecia mais um bicho feio. Pr’aquele moço havia futuro, afeto sem fim; planos a longo prazo. Os filhos seriam lindos, a casa impecável e cheia de espaço para abraços e beijos e momentos de cobertor. Desceu do trem. Até casar na igreja podia. Qualquer coisa podia. Saiu da estação do metrô, vento frio no rosto. Ele era a medida de seus desejos e o que importava era tê-lo consigo. Escondeu-se sob o cachecol, como que no abraço tão sonhado.

Continuava pela rua com aquele sorriso insistente. Chegou em casa com o coração agitado. Taquicardia gostosa de amor. Entrou. Ele não estava lá. Não havia ninguém em casa. Nunca houve. Mas ela tinha o seu segundo sonho.