PARCEIROS DO FUTURO VAMOS TODOS DE ROLDÃO (crônica reescrita)

Uma nova ordem já se profetizava no Brasil de 1968 tendo o artificialismo como características dos novos tempos. E onde os limites geográficos vão desparecendo sob a loucura da comunicação global.

"Nos braços de dois mil anos

Eu nasci sem ter idade

Sou casado, sou solteiro

Sou baiano e estrangeiro

Meu sangue é de gasolina

Correndo não tenho mágoa

Meu peito é de "sar" de fruta

Fervendo no copo d''''água"

. "A minha vida que grita

Emprenha e se reproduz

Na velocidade da luz

A cor do céu me compõe

O mar azul me dissolve

A equaçãu me propõe

Computador me resolve"

Somos uma cobaia dos tempos modernos e também privilegiados pelo conforto e facilidades que a teconologia vem proporcionando a uma parcela da população do planeta. Ao contrário de minha avó, uma dona de casa que tinha as mãos marcadas pelo trabalho pesado, posso me dar ao luxo de poupar minha pele usando máquinas, posso enfim, conhecer lugares viajando com uma despesa bem modesta, posso estar aqui a escrever para quem, no planeta, quiser ler.

Entretanto, certos valores, olhados de cima por uma elite de intelectuais pouco afeita ao convívio com os exercícios fraternos, são vistos como ultrapassados, ranço de uma cultura sem o brilho do saber cultivado em longos anos de estudo, graduações, doutorados. Essa nova classe dos que encontraram um novo deus pra cultuar nos frios labores do sagrado recinto das bibliotecas sofre, entretanto, da mesma miopia existencial e humanista dos povos de hoje. Dão excessivo valor à quantidade, em detrimento da qualidade. É uma tendência que se alastra como praga: o superficialismo.

Este sim, graças à necessidade de que tudo se faça rápido e com lucros fartos e imediatos, desabou sobre o cenário cultural e dos costumes e está liquidando com as exposições de arte, a literatura, o cinema, a música, de um lado, e com as relações humanas, de outro. Sobre a Bienal de São Paulo em 2007 declarou Mino Carta: "O tempo da Arte com A grande se fué. Agora é a bandalheira dos aproveitadores e dos idiotas, com o beneplácito dos pretensos críticos, tragicamente iletrados e incultos, para a alegria dos marchands idem, idem, com batatas. De resto, é de agora a cotação de fotos ampliadas em alto-contraste por Andy Warhol a 9 milhões de dólares cada."

Os tão falados meios de comunicação de massa, querem tudo pro consumo quase instantâneo, seja na cultura, seja nos laços que unem as pessoas.

"Amei a velocidade

Casei com sete planetas

Por filho, cor e espaço

Não me tenho nem me faço

A rota do ano-luz

Calculo dentro do passo

Minha dor é cicatriz

Minha morte não me quis"

O planeta tornou-se uma enorme tela onde se projetam realidades que têm o mesmo objetivo de entreter, fomentar ilusões e criar verdades convenientes, como o tinham os circos romanos. E da mesma forma como então, não restou muito espaço, neste opulento mausoléu de possibilidades, para quem quiser ter sua privacidade razoavelmente respeitada e encontrar um caminho particular e criativo a seguir. Entretanto, restam, como sempre, algumas vozes que se erguem contra a truculência limitadora. A voz dos poetas e dos bêhados ainda grita por uma existência diferente!

Salve-se o geral, a geral dos estádios, a geral das sociedades, onde tudo é mais colorido e intenso, bem mais próximo do humanismo que existe sob a pele de cada indivíduo, esperando oportunidade pra se manifestar. Onde a criatura-bicho-pessoa pode ainda, em momentos de euforia e suor, fugir, mesmo por momentos, da tirania pasteurizada e dos modelos prêt-à-porter de conduta institucionalizada.

Salve a loucura, os loucos, os desvairados, os que não se conformam, os que ainda conseguem fugir à regra pelo simples prazer de existir, os que ainda conseguem exaltar a diversidade e acampar no insensato pra não morrer antes da hora!...

Porque passar pela existência sem transgredir, sem pelo menos tentar cortar os cordões que prendem a marionete, sem provar o gosto da irreverência, sem ouvir a primitiva voz dos ancestrais que clama por verter seu sangue, será uma melancólica anti-vida, uma triste coreografia executada por criaturas mecânicas. E a música 2001, de Tom Zé, em 1968, desenhou fantasticamente a preplexidade do homem levado pelo vendaval futurístico, como folha na ventania.

tania orsi vargas
Enviado por tania orsi vargas em 08/06/2009
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