Xixi vermelho

_ Papai, a minha amiga disse que quando a gente faz xixi vermelho já pode ter neném.

(minutos de silêncio da minha parte)

_Éééééé, filha, que coleguinha é essa? Perguntei enquanto ainda tomava fôlego após o direto de direita que havia tomado.

_ É fulana, prima de sicrana. É mais velha que a gente, disse toda orgulhosa minha filha de sete anos por conhecer alguém mais experiente, do quarto ano, talvez com nove anos.

Uma pergunta como esta nos faz acordar para a maior de todas as realidades: nossos filhos crescem, ufa!

Num dia lá está o meu docinho de coco, ensaiando os primeiros passos, no outro já está voando para fora do ninho.

_ Pai, este é o Zé (sempre o Zé).

_ Quem? Pergunto distraído pensando se tratar de mais um coleguinha da escola.

_ Meu ficante.

_ O que?!?!?

_ Aquele que eu dou uns beijos pai.

_ Como?!?!?

_ Na boca pai.

_ Não...

_ Dou sim pai.

_ O que ?!?!?

_ Beijo pai.

_ Então tá, prazer meu filho. Voltem ás dez.

Talvez seja só desespero de pai ciumento, afinal ela só tem sete anos. Ainda vai ser meu docinho por mais uns... Cinco ou seis anos! Caramba! Só isso?

Pois é, quem diria que aquela menininha de shortinho e sem camisa, brincando na sala com mais barbies do que a população do Congo, um dia iria crescer. Não sei bem o que me assusta nessa história, mas sei que me assusta. Talvez seja a vaga idéia de que crescendo a vida vai se mostrar mais crua, mais dura para ela. Talvez eu a queira sobre abrigo destas intempéries, eternamente intocada pela aspereza do mundo adulto. Infantilidade minha, eu sei. Fazer o que? Não conheço um único homem que não seja um eterno crianção, até mesmo os grandes ícones do mundo o são. Veja Ghandi por exemplo, de birra com os ingleses ficava sem comer, e quando os britânicos baixavam a lenha ele bradava:_ Nem doeu!

Jesus então, quando o demônio o tentou quem é que ele chamou? O Pai.

Somos todos crianções

Sei que não vou conseguir deixá-la pequena para sempre, a não ser na tatuagem que tenho de seu rosto em meu braço direito. A cada dia que passa suas idéias mudam, seu olhar se altera, o seu “ser” se torna outro. É uma marcha inexorável. Resta-me aproveitar o que sobra desta fase: brincar de boneca (por mais insuportável que seja), ver desenho das super-poderosas (apesar de você preferir ver a final do UFC), correr atrás de bola (apesar da bosta do seu joelho gritar em contrário), brincar de pique-sei-lá-o-que. Brincar e curtir, porque daqui a pouco, bem pouquinho mesmo, ela vai acordar e será uma adulta.

Bom, em certa medida também vai ser um alívio. De qualquer forma eu ainda tenho outros dois filhos para curtir e me embasbacar. Ainda tenho alguns anos de pai de criança pela frente. Bonecas e carrinhos para curtir.