UMA BREVE CRÔNICA SOBRE A VIDA E O AMOR

Os desafios nos dão a ideia de movimento, de estar em vias de, são como subterfúgios criados pela necessidade de sobrevivência que constroem uma dinâmica na qual nos sentimos indo realmente para algum ponto sem termos que encarar o fato um tanto deprimente de que,na verdade, tempo e movimento são criações da nossa prórpria mente e sem uma ilusão de que estamos indo, sucumbiríamos ao tédio.

E quanto ao amor entre homens e mulheres, seria ele uma invenção do nosso recente alvorecer para formas mais elevadas de perceber a presença uns dos outros? Há quem diga que não sabe explicar o amor, só sentir. Até pouco tempo ainda atrelava-se amor a casamento, este que surgira como uma forma de organizar o rebanho, manter patrimônios e dar legitimidade aos filhos. E nesse emaranhado bizarro de acontecimentos entre os sexos há também a mãozinha impiedosa das mais modernas invenções da tecnologia , das mais inacreditáveis "verdades" lançadas pela mídia desgovernada, enfim, tudo que torna as relações entre pessoas sempre mais refratárias a um comportamento natural.

Voltando ao raciocínio anterior, da necessidade de "movimento" para o comum dos mortais não sucumbir ao tédio, caberia a pergunta se um amor realizado, consumado, perderia essa capacidade de alavancar olhares buscadores? De construir esperanças e embalar sonhos ? Todos sabem que a paixão é um modo de criar um momento de intensidade tal que proporcione o melhor encontro entre dois seres para que se produzam os melhores frutos na preservação da espécie. E como tal, tem um tempo determinado de duração, do contrário sucumbiríamos pelo desgaste. Mas nós humanos superamos em parte essa condição puramente biológica para levarmos o desejo pela vida afora como forma de realização pessoal e não simplesmente como um evento da nossa natureza animal, condicionado a um período determinado de nossas vidas e a uma função puramente biológica. Sendo assim, os chamados amores "eternos" seriam invenções da literatura ou seriam na verdade aqueles que não foram totalmente consumados? Ou ainda uma forma de justificar comportamentos problemáticos de pessoas que na verdade não querem pousar no solo frio da realidade ou são filhos e filhas cujo apaixonamento pelo pai ou mãe não migrou para o irmão ou irmã e finalmente para pessoas desconhecidas, como seria o processo saudável no desfecho da sexualidade? Quem viu o filme Ligações Perigosas teve o retrato de um comportamento masculino tão problemático que a esperteza de uma mulher apaixonada conseguiu manipular a ponto de fazê-lo crer que o que sentia por uma outra não era amor até que ele, diante da morte da amada, muito tardiamente percebeu a verdade.

Uma outra forma de entender o amor seira analisá-lo pelo ponto de vista mais amplo, místico, em que esta busca do amor carnal e apaixonado seria na verdade, a busca por um estado de graça que não conseguimos atingir de outra forma, dadas as nossas limitações como seres imperfeitos. O kama sutra, entendido por muitos como simples manual de sexo é, na verdade, o ensinamento de modos de realizar a maituna, o sexo tântrico, cujo objetivo é justamente libertar a pessoa de seu apego ao corpo através de uma transformação das energias.

E não creio que nenhum especialista diplomado e doutorado possa fechar esta questão do amor. E diante da complexidade da nossa natureza, seria temerário tentar conceituações definitivas arbitrariamente.

Por fim, não é demais lembrar que quando nos apaixonamos por uma pessoa estamos na verdade dizendo sim à vida, ao projetarmos a nossa capacidade de amar no outro a quem escolhemos e cujas características refletem a nossa própria sombra, o nosso lado não "visível" que estamos guardando e que se mostra irresistível na imagem do outro. Apesar de tanta teoria, sabe-se como é bom viver tais momentos, um "fogo que arde sem se ver" e principalmente a expressão de uma sanidade benfazeja que privilegia a todos que tiveram a sorte de ser muito amados. E a palavra louco atribuída ao amor é só uma forma de falar, pois amor bandido, amor fatal, amor que exige a vida em troca não passam de manifestações da irracionalidade humana aquecida por vivências cruéis.

Hoje, dia dos namorados, teremos aqui na cidade aquelas filas diante dos motéis o que por um aspecto é triste porque expõe a intimidade de uma forma banalizada e nada criativa. Cada vez mais as pessoas estão sendo encurraladas em formas de comportamento previsíveis , prosaicas e afetadas. Mas por outro lado , não podemos deixar de reconhecer aí uma maneira desassombrada de publicamente celebrar o amor, um momento raro aonde homens e mulheres aparecem lado a lado num evento com feição de festa pagã, sem os ranços de um falso moralismo nascido do preconceito que ainda coloca as mulheres como seres dependentes e sujeitas a rótulos.

E é realmente admirável que num canteiro desses ainda haja força para que nasçam flores viçosas e perfumadas. Felizmente o melhor de nós tem misteriosas energias e subjaz como um fluido que pode nos salvar da mediocridade, e como um milagre reincidente, fazer nascer a tenra plantinha da superação por entre as brechas do asfalto.

tania orsi vargas
Enviado por tania orsi vargas em 11/06/2009
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