BOM DIA, VOVÔ!

Agora temos um casal de netos: Alice e Dudu, este com um ano e meses. Dudu nos alegra e cativa com gestos, como apoiar o rostinho no nosso; ri das nossas molecagens e dá os bracinhos quando o chamamos. Hehe! Adora montar a cavalo na minha barriga e sacudir. Convenhamos: com um barrigão como esses, ele não poderia jamais arranjar uma montaria mais confortável. De besta ele não tem nada.

Alice já fala tudo, tem mais comunicação com a gente, mesmo quando faz uso das suas traquinagens. Comporta-se com uma adulta femeazinha com seus dois anos e meio: cuida dos seus filhotes (meia dúzia de bonecos) com os quais interage da mesma forma que a mãe ou a avó age com ela: troca fraldas, passa papel higiênico na bundinha deles para limpar cocô; borrifa talco ou aplica pomadinha, dá mamadeira, passa batom, troca roupa, põe termômetro, cura-os de qualquer doença imaginária (que inveja eu tenho desta capacidade) e coloca muitas vezes o dedinho indicador ereto rente aos seus lábios sempre besuntados de batom para indicar, para nós adultos imbecis do seu fantasioso julgamento, silêncio porque o bebê está dormindo e não podemos fazer nenhum barulho.

Eu e Isa aceitamos sem relutâncias. Assumimos a nossa imbecilidade frente ao seu consistente julgamento ainda que imaturo ou abstrato. Ah! Dá a vida por um batom, frascos de perfumes e outros cosméticos. Não os barganha por nada, nem mesmo por um chocolate dos bons.

Vez por outra apronta algumas coisas que nunca fizemos, como por exemplo chutar as costelas do Dudu por mera implicância, ou, sei lá, ciumeiras sem razão (para nós) que o seu cérebro ainda em formação a estimula como defesa ou garantia do seu status já conquistado. (Sou bastante crente sobre algumas atitudes tomadas por humanos adultos ou crianças sejam reminiscências de alguns genes ainda existentes nesta nossa fase de evolução que romperam a barreira do ostracismo em que se encontravam e se tornaram reais e mal-educados sob o nosso ponto de vista de animais superiores).

Esta semana recordei-me do casal, aquele da menina com síndrome de Down. Por uma simples atitude de criancinhas com a mesma faixa etária. A minha pequenina Alice, minha adorada netinha, meu mais recente motivo das mais impensáveis emoções, entrou correndo (como sempre se comporta) no meu quarto de dormir pela manhãzinha e, já de longe, em atitude clássica para um abraço, gritava:

- Bom dia, vovô! Bom dia, vovô! E me abraçou dando tapinhas carinhosas nas costas. Hehe! Tal como ela faz com o Barney, o cachorrinho.

É para matar qualquer um velho e emotivo como o seu avô Dirceu Badini! Aparentemente não há nada para ser comparado, mas me despertou as mesmas emoções de uma exclamação que eu não admitia ainda brotar de uma criança da sua faixa etária. Pude entender melhor a alegria do casal que explodiu em contentamentos quando a sua filhinha rejeitou o almoço com um sonoro, vibrante e, até certo ponto, indiscutível não.

Obrigado, netinha linda, querida! Não me esquecerei nunca desses dias. Em algum momento você não mais terá o vovô e a vovó para repetir estas palavras, mas assim é o Universo. Deem bons dias para todos. Qualquer um dos seres habitantes deste planeta merece ter bons dias... bons tudo.

Bons dias; boas tardes; boas noites; bons anos; bons tudo quanto vocês almejarem nossos anjos Alice e Dudu, fiéis herdeiros e guardiões genéticos! Isto poderá ser o mais valioso bem que eu e a sua avó lhes deixamos! Não estou certo! Estou comportando-me como um cego egocêntrico?

Não acredito, mas de onde eu estiver e se puder zelar por vocês, podem crer, será a minha única e exclusiva prioridade. Vocês representam aqui na Terra a continuidade da nossa existência. Egoísmo nosso? Certa e orgulhosamente é sim. Carregam pedacinhos de nós e de todos nossos ancestrais. Se são ou serão proveitosos ou não, nem nós ou vocês não terão culpa alguma; simplesmente a genética obedece a determinados dogmas que ainda não somos suficientemente poderosos para alterar. Nós não temos escolha. Alea jacta est!

Se vocês algum dia entenderem o que hoje escrevo, poderão sentir-se felizes por terem tido como avô e avó dois seres humildes e responsáveis pela sua missão; aqui estiveram para tentar à sua bel maneira fazerem outros felizes, dignos e tentar honrar àqueles de direito por esta oportunidade única. Não nos recorde como doutores. Não nos relembre como professores.

Mantenham-nos como seres simples e mortais que por aqui passaram deixando raros e esmaecidos rastros. Somente isto.

Bons dias, Alice! Bons dias, Dudu! Vovô e vovó adoramos os bons e os não tão bons dias juntos de vocês. Assim sejam pela eternidade adiante!

Terça-feira, 6 de maio de 2008

Dbadini
Enviado por Dbadini em 12/06/2009
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