Ela chorava lágrimas de sangue

Era um dia especial, mas para ela parecia mais o enterro de um ente querido. Sozinha, tarde da noite, começou a chorar. Eram lágrimas de sangue, de saudade, de dor, de angústia, que misturadas com a latente solidão tornavam sua melancolia ainda mais pesarosa. Passar trancada dentro de casa o Dia dos Namorados era apenas um pedaço da tragédia, a falta de controle sobre sua vida era o que mais pesava naquele momento.

Rebelde, ela não queria ser compreendida, queria se fechar na dor e recusava até mesmo a ajuda daqueles que queriam de volta seu sorriso. E o sorriso era encantador, misturado com as pequenas covinhas que se alinhavam naquele rosto que mais parecia ser pintado, com uma pele morena contrastando com incríveis olhos verdes claros.

Chorava a altas horas da noite a falta do amado, distante naquele momento e sem nem ao menos imaginar que seus nobres pensamentos eram para ele. Durante anos, apesar dos cortejos, ela jamais percebeu que o que sentimento era puramente amor. Quando percebeu, já havia o perdido, nestes rumos que a vida vai tomando invariavelmente. Antes da meia-noite, a internet se transformou em amiga, talvez a melhor amiga. Ele estava online, mas ela não tinha coragem de puxar assunto. Ficou ali esperando que ele a percebesse e tentasse mais uma vez falar do que sentia. Presa entre a vontade de dizer que amava o medo de errar novamente. O telefone tocou, mas não identificava quem estava ligando. Somente após o terceiro toque ela resolveu dizer alô, sustentando a voz perante a vontade de chorar novamente. Era ele, para dizer que queria lhe desejar feliz Dia dos Namorados. Ela não entendeu, ou não quis acreditar na sorte. Seu rosto enrubesceu e ela começou a sorrir. Ele desligou antes de dizer que estava chegando. Ela saiu correndo, limpando as lágrimas quando a campainha tocou, pensando ser ele. Um buquê de rosas foi entregue com uma pequena mensagem: “eu ainda te amo”. Não estava assinado, mas ela acreditou na mensagem e soube de onde ela veio. Voltou para a internet para escrever duas palavras: “eu também”.