Um breve dia

O ventilador reclamava óleo! Um leve chiado mantinha a chama de vida acesa naquele cubículo. Ela acordando aos poucos precisava sair o quão breve para pegar o trem das seis da manha. Teria que sair sem tomar café, teria que se vestir depressa, teria que carregar uma mochila pesada e provavelmente um guarda-chuva pois o tempo era cinza. Desligara o ventilador antes de sair.

As ruas quase como guerras pavimentadas fervilhavam de pessoas; fervilhava, fervilhava. Estavamos próximos do natal, uma ou duas semanas para o dia da hipocrisia multua. Quase como vomitada para fora do trem, seguiu seu percurso diário. Era sua infalível rotina. Trabalhava como vendedora em uma loja de calçados, trabalho simples porém desgastante. Folga nos fins-de-semana, salário no fim do mês, uma típica humanóide trabalhadora de uma cidade grande, grande demais.

Conheça-te a ti mesmo, dizia o cartas na rua, comercial de cosmético para rejuvenescer a pele, o velho medo a velhice, a velha busca da juventude, temos em nossas casas fontes pessoais da juventude compradas por 19,99. Será a globalização? Um lanche rápido na rua, algo gorduroso o bastante para ser saudável, que vá as favas! Todos estamos morrendo mesmo! Olhava as mãos sujas por aquela maligna gordura, imaginava que só em passar a mão em seu ventilador poderia resolver o seu problema. Seu coração sofria, não com gordura mas por um amor perdido no mês passado, hora em hora esquecia do que se passou, hora em hora lembrava do passado. A vida é engraçada quando não se busca graça, somos os palhaços tristes não? Buscar conhecimento religioso? Buscar um cosmético novo? Buscar um canal de TV que faça valer a pena viver? Uma faculdade, um emprego descente, o anuncio mandava conhecer a mim mesma.

Com o fim do expediente pegara o trem das 22:00, o último do dia, o último da noite. Chegara em casa sem disposição para a televisão, deitara e fora dormir. O ventilador reclamava óleo