DO BUCOLISMO INTERIORANO AO PANDEMÔNIO COTIDIANO

Itabira já não é mais a tranqüila e pacata cidade dos tempos drumondianos. Não há mais “tardes brancas”, nem mocinhas nas janelas, muito menos cachorros preguiçosos indo e vindo. Suas ruas, antes calçadas de pedras oriundas do Cauê, por onde circulavam livremente e sem nenhuma pressa, carroças e carroceiros, tropas e tropeiros, ficaram ocultos no recôndito de nossas saudades ou em algum “retrato na parede”. A evolução tecnológica, científica e industrial chegou galopante, muito mais veloz que os burricos pachorrentos, que há muito desapareceram de sua paisagem.

Hoje tudo mudou.

A cidade cresceu mas não evoluiu sobre certos aspectos. Um dia desses tirei umas boas horas para contemplar e avaliar o pulsar desta cidade no momento em que as pessoas retornavam aos seus lares, após um dia de trabalho para a maioria delas.

O trânsito, ali pela Praça Dr. Acrisio Alvarenga estava um caos. Carros e ônibus nervosos enchiam o ar com seu barulho e a atmosfera com seus gases tóxicos. Pessoas iam e vinham numa corrida frenética, que mais se assemelhava a formigas, na sua faina para abastecer seus formigueiros. Ao longe se avistava um motoqueiro irresponsável, furando a fila dos que esperavam o sinal mudar de cor. A imprudência foi tanta que quase atropela uma criança que se soltara das mãos de sua mãe.

Barulho, fumaça, pressa...tudo se misturava para tornar ainda mais tensa e nervosa aquela tarde de verão.

E eu ali, sentado em um dos bancos da praça, com a paciência de quem não tem mais pressa para nada, observando toda aquela confusão de buzinas, fumaça e barulho, fiquei a pensar no poeta maior. Se naquele momento ele pudesse se materializar, colocando-se na posição de também expectador, certamente sua mão febril e sua veia poética entrariam em ebulição.

E ouvindo a sirene dos bombeiros, da polícia e da ambulância na certa pensaria que agora não havia mais pedras no caminho (pois a Vale levou), mas outras barreiras piores que se elevaram a impedir o caminhar livre de uma cidade, outrora pacata e bucólica, e que agora vive e respira ares de metrópole.

Quem diria, não é mesmo, Drummond?

JOSÉ MERCES
Enviado por JOSÉ MERCES em 18/06/2009
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