José Sarney, basso vulto do Maranhão

José Sarney, basso vulto do Maranhão

(José Sarney, senador, nepostismo, tanka, haicai, Senado Federal, corrupção, abuso do poder, Brasília, crônica)

vulto contestável

da velha capitania --

senador e sombra

vivo, já parece morto

morto, como se estende!

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(tarde no planalto –-

zeloso e mui vigilante

o bravo senador

mira na impunidade

e acerta um serviçal)*

*acrescentado em 24.06.2009

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Tempos atrás, recebi um e-mail de uma colega de São Luiz do Maranhão, que dava conta do imenso poder e riqueza da família Sarney no Estado do Maranhão, mostrando a imensa fortuna acumulada a partir da atividade política, o incrível espectro de poder da família, espalhado pelos órgãos dos três poderes do Estado do Maranhão e, claro, o rol de propriedades privadas da família, e dos aliados políticos e, ainda a vistosa lista de ruas e prédios batizados com o nome de vultos da opulenta heraldia.

Dias atrás, ocorreu no Tribunl Superior Eleitoral - TSE, presidido pelo ministro Carlos Ayres Brito, um julgamento e uma tomada de decisão impressionante: o governador eleito do Maranhão, Jackson Lago teve a sua candidatura cassada por abuso do poder político e, em vez de determinar que fossem realizadas novas eleições (o que se faz até no menorzinho dos municípios do grotão), os ministros da casa entenderam de interpretar a Lei de uma forma curiosa – substituindo-se eles à vontade dos eleitores, empossando em lugar do outro, nada menos que Joseana Sarney. As más línguas dizem que a musa inspiradora foi de natureza por assim dizer... sarneyística!

Recentemente, José Sarney tornou-se presidente do Senado Federal da República Federativa do Brasil, um lamaçal onde ocorria mais um escândalo relativo à contratação de “diretores”. O velho Senador nem coçou o bigode, e diante do assédio da imprensa, fingiu macheza e vontade de tomar providências moralizantes.

A coisa foi indo e, agora se descobre que é costume da Casa burlar a Constituição Federal e todos os princípios comezinhos de Estado e civilização, contratando gente importante mediante um baixo expediente, chamado “ato secreto”. No meio da coisa, começaram a fervilhar o nome de gente pertencente ou ligada ao velho Senador.

Pelo jeito, o sujeito tem um projeto próprio de aparelhamento e captura de Brasília, através da nomeação de parentes e cupinchas. Pode ser que até exista, a essa altura, um “ato secreto” anexando Brasília à capitania geral e hereditária de São Luiz do Maranhão, já que a nomeação de parentes com residência fixa no exterior, indica que talvez tenham o papel de adidos da velha Gleba.

A opulência da família Sarney, amigos e, agregados políticos, contrasta justamente com a pobreza do Maranhão, onde a família manda de desmanda, há décadas. Os maranhenses parecem ter sinalizado o interesse em mudança no balanço nas forças políticas da região. Os Sarney, entretanto parecem não concordar com a coisa e, enfim, mativeram sua realipolitic, com uma providencial ajudinha do TSE (a manifestação dos eleitores maranhenses, no caso, não parecia de grande importância, afinal!).

Depois de ler o enojante noticiário sobre essa nobiliarquia, e um artigo do Augusto Nunes (Veja) tratando da morte política de Sarney, escrevi o tanka postado no começo do texto e, que repito aqui:

vulto contestável

da velha capitania --

senador e sombra

vivo, já parece morto

morto, como se estende!

Em certa medida, o senador José Sarney é o exato retrato do Congresso Nacional e, do parlamentar brasileiro. O pais vai mudando, a concepção do povo sobre a política e políticos vão se transformando, a própria legislação avançou bastante e, alguns órgãos insistem no controle da Administração Pública brasileira (noves tribunais de contas, que tem se mostrado ser parte do problema).

Mas, Sarney, tal qual a maioria dos políticos e parlamentares brasileiros, em vez de ocupar a vanguarda desse movimento de mudanças, está na popa da nave, tentando contemplar o passado, para instituí-lo no presente. Mas, o que vê, naturalmente, não são sinais do espírito do passado, mas tão somente os insetos do egoismo imobilista, que voejam na luz da lanterna.