O corpo, ou o filho?Continuar magra ou engordar?

O corpo, ou o filho?

Continuar magra ou engordar?

Á doze anos atrás, eu odiava pessoas gordas. Eu as achava desleixadas, nojentas, seres que não amavam o próprio corpo. Que comiam feito porco.

“Mim apaixonei e me casei com um gordo. Ele é lindo e faz doces maravilhosos para me.”

Nunca me passou pela cabeça que eles sofriam. Que se esforçavam para emagrecer. Que muito ficam anoréxicas para emagrecer. Que de cada mil que tentam uma consegue perder peso e se manter magra.

Não fazia idéia que existem doenças que engordam quem não quer ser gordo.

Eu era o tipo que vivia para o corpo. Não comia para não engordar. Jogava futebol. Andava. Treinava caratê. Dançava 8 horas por final de semana. Fazia uma hora de abdominal se tivesse uma gordura fora do lugar. Eu era obcecada.

Até engravidar do meu segundo filho.

O médico me chamou no consultório após minha terceira internação em três dias e me disse:

“Você tem uma gravidez de alto riso. Eu posso te ajudar, mas você irá engordar muito.”

“Não tem jeito? – Eu não queria ser gorda. Não ia agüentar isso.”

“É a única chance. Provavelmente nunca mais volte a ser magra como hoje.”

Eu pesava 56 k. Tenho 1,65 m. Fui até o espelho, me dei uma boa olhada.

Eu sou muito egoísta. Sempre pensei só em me mesma. Não ia fazer nada por um feto que nem conhecia. Nunca!

Mas era meu filho. Eu o queria. Ele estava crescendo. O que é alguns quilos? – Pensei.

“Aceito.” Eu aceitei ser gorda àquela hora. Aceitei mudar por outra pessoa que não eu. Pior é que nem conhecia essa pessoa.

Eu não tava mudando por um homem lindo, forte, galã. Não! Mas por um bebê que iria chorar a noite toda. Que me tiraria à paz e o sossego. Que eu amava sem nem ter visto.

Começou então a minha tortura. Todo dia um monte de remédios. Injeções. Soro e repouso absoluto. Vitaminas de todos os tipos e cores. Eu não comia comida. Só bobagens. Tudo me fazia enjoar e passar mal.

Com oito meses de gravidez tive meu bebê lindo, de parto normal, quase saudável. Um pouco roxo por falta de liquido na barriga.

Lembro que o pai disse: “Esse menino não é meu. O que você fez Karla? Quem é o pai dele?

Levou meia hora, uma enfermeira e dois médicos para explicar a cor. A falta de liquido, de ar.

Três dias no hospital e fomos embora. Ele com 3 k 200 g, eu com 95 k. Um mês depois eu ainda ganhava peso, cheguei a 120k.

O que importava era o meu bebê chorão. Ele chorava o tempo todo. Veio os problemas de saúde dele e com eles o aumento da minha depressão. Nada entrava em me. Eu me sentia um monstro. Gorda, horrível.

Minha roupas não entravam. Não conseguia comprar roupas. Tudo que é feito são para as magras.

Dependendo da roupa fica horrível. E a barriga flácida? “Que horror!” Os pinéus? Parecem de caminhão!

Eu me olho no espelho e pergunto: “Cadê eu? Quem é isso ai?”

Meu marido me apoiava. Sempre dizia que eu era linda. Não importava o peso que tivesse. Mesmo assim quase morri de depressão. Imagino as mulheres que o marido não apóia e ainda arrumam outras. Ele nunca me disse que estou gorda.

Os anos se passaram. Eu tentei todas as dietas inimagináveis. Remédios e todo o resto. Nada adiantou. Eu continuo gorda.

Hoje vejo que ninguém é gordo porque quer. Sim porque não conseguem. Por alguém motivo não consegue ser magros. Sei o quanto sofrem, o quanto tentam, sem nada conseguir.

Não critico mais os gordos. Sei que muitos dariam a alma para serem magros. Que muitos sorriem e fazem piadas, mas sofrem muito por ser gordos.

É um saco ser ponto de referencia. Não ser convidado para algumas festas, para não dar prejuízos, afinal, gordos comem mais.

É horrível agüentar pessoas magras, que nem sabe o que você passa para tentar emagrecer. Que não sabe que você fica sem comer às vezes para emagrecer te dizer:

“Porque não faz uma dieta? Você é gorda(O) porque quer. Para de comer que emagrece.”

Porque será que tem tanto gordo se é tão fácil?

Porque eu não emagreço se é tão fácil?

To cheia do efeito sanfona.

Cheia de tentar emagrecer.

Já casei mesmo! Se meu marido me aceita o resto que se dane.

E daí se as roupas não entram?

E daí se eu não consigo comprar roupas?

O que importa é que tenho saúde!

Tenho um filho lindo, que esquenta leite e me leva na cama quando estou doente.

Mas se me perguntar se valeu à pena... – Eu digo: “Cada quilo em dobro só para ter um filho perfeito como o meu. Tudo pelo seu sorriso.